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Início de uma "purga natural" e um recomeço para a FRELIMO?

6 de maio de 2024

Inédita "batalha campal" da FRELIMO sinaliza mudança estrutural interna? As posições estão divididas sobre um "restart" do partido e há confiança na extinção lenta da ala económica "predadora". "Purga natural" à vista?

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Bandeiras da FRELIMO
Foto: Amós Fernando/DW

Na "arena" da Matola, os camaradas se exaltaram, despiram-se da disciplina partidária e até o verniz estalou no fim de semana. Foi um espetáculo gratuito que fez as delícias dos moçambicanos, que assistiam de camarote a mais uma sessão do Comité Central (CC) da FRELIMO.

A ferro e fogo, o partido histórico escolheu o seu candidato às presidenciais deste ano: Daniel Chapo. Apesar das cenas hilariantes e perplexas, a FRELIMO parece ter sinalizado que não mais será o bobo da corte. A oposição interna marcou um regresso aos trilhos do partido no poder?

O sociólogo Elísio Macamo desvaloriza a resistência interna: "Não vejo esta alegada resistência necessariamente como um recomeço, acho que a liderança conseguiu impôr a sua vontade. Votou-se numa lista que me parece que estivesse de acordo com a vontade dos membro do comité central."

O sociólogo recorda que "algumas pessoas já tinham começado a fazer campanha e nenhuma delas constou dessa lista [de pré-candidatos]". E nesse sentido entende o seguinte: "Acho que seria demasiado ingénuo pensar que estamos perante um recomeço. Não creio que possamos dizer com segurança que houve resistência, houve provavelmente debates intensos."

Daniel Chapo, candidato da FRELIMO às presidenciais de 2024
Daniel Chapo, candidato da FRELIMO às presidenciais de 2024Foto: Luciano da Conceição /DW

"Um novo capítulo na história da FRELIMO"

Mas para Andre Thomashausen, especialista alemão em direito internacional residente na África do Sul, "a grande batalha do Comité Central terminou com muitas feridas, muita ansiedade e lágrimas até, mas acabou bem, num novo consenso em que o Comité Central reuniu-se à volta do candidato Daniel Chapo".

O analista está confiante em novos horizonte para o partido: "E penso que vai ser um novo capítulo na história da FRELIMO, o partido provou que é capaz de conseguir uma renovação e que os desafios do futuro serão diferentes dos desafios do passado".

Também a abstenção inédita que marcou a escolha fala mais que as palavras. O descontentamento crescente em relação aos desvios dos ideais do partido não é de ser marginalizado. Há anos que a FRELIMO foi tomada pelo "gangsterismo económico", segundo constatação do povo e até de correligionários. Interesses perversos envenenam o tecido político do partido, gerando descrédito.

Filipe Nyusi, Presidente de Moçambique
Filipe Nyusi, Presidente de MoçambiqueFoto: João Carlos/DW

"Purga natural" à vista?

Um recomeço implicaria uma limpeza. Começa uma purga "natural" no partido? Elísio Macamo desvaloriza essa hipótese: "Não haverá purgas, acho que esse conceito não é realmente o mais adequado para descrever o que poderá vir a acontecer. Mas penso que será mais difícil agora gerir o partido, porque independentemente do que terá acontecido no Comité Central, ficou claro que há muitas divisões que se vão manifestar a todo o momento a partir de agora."

Mas Andre Thomashausen tem uma perspetiva diferente. E quanto a uma possível dissidência na FRELIMO, à semelhança das fraturantes cisões no ANC que continuam a marcar a atualidade na África do Sul, o especialista não vê "riscos de fraturas dentro da FRELIMO, justamente porque essa ala comerciante, ou ala das transações monetárias, liderada por Filipe Nyusi, não tem fundamentação política. Tem, claro, os seus apoios, mas políticamente é insignificante."

"Muita dessa gente vai sair da política e vai-se dedicar a salvaguardar os seus interesses económicos e poderá haver um ou outro que poderá tentar criar dificuldades", conclui Thomashausen..

O que está a "tramar" a FRELIMO?

Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África