Ébola está "fora de controlo", afirma Médicos Sem Fronteiras
25 de junho de 2014Em comunicado, a organização não-governamental recorda que foram identificados doentes em mais de 60 locais dos três países da África Ocidental infetados, o que torna muito difícil localizar, identificar e tratar os doentes em asilos para deter o surto.
"A epidemia está fora de controlo. Com o aparecimento de novos focos na Guiné, Serra Leoa e Libéria, existe um risco real de o surto se expandir a outras áreas", afirma, no comunicado, Bart Janssens, da MSF.
A ONG indica que atualmente é a única organização que está a tratar os doentes de um vírus "que pode matar até 90% dos infetados".
Até agora, a MSF tratou 470 doentes, 215 dos quais eram casos confirmados de ébola, mas está "a ter problemas para responder a um número crescente de casos", referiu a organização.
No comunicado, destaca-se ainda que o atual foco de ébola não tem precedentes no que diz respeito à distribuição regional, ao número de pessoas infetadas e ao número de mortes.
Ébola afeta toda a região
Na terça-feira (24.06), a Organização Mundial de Saúde (OMS) revelou que o número de vítimas mortais causadas pela epidemia de ébola na África Ocidental ascende já a 350, de 528 casos confirmados.
Segundo a OMS, os países afetados e os países vizinhos devem disponibilizar os recursos necessários, em particular pessoal médico, e fazer campanhas de sensibilização. "O ébola já não é uma questão de saúde pública limitada à República da Guiné, mas que afeta toda a região", indicou a organização.
A OMS agendou para o princípio de julho um encontro de alto nível para debater sobre a epidemia e as medidas urgentes que devem ser adotadas para a travar. A reunião decorrerá em Acra, capital do Gana.
Sebastian Calvignac-Spencer, investigador do Instituto Robert Koch de Berlim, disse à DW África que depois de um recuo nos dois últimos meses constatou-se que atualmente a epidemia voltou e com uma certa força.
"Os dados epidemiológicos que temos neste momento mostram que para além da Guiné, muitos casos também surgiram na Serra Leoa e na Libéri. Trata-se de uma segunda fase da epidemia que sucedeu à outra que ocorreu no início do ano", disse.
Todo o cuidado é pouco
Para combater esta violenta epidemia todo o cuidado é pouco, notam os especialistas. Por isso, Calvignac-Spenser aconselha as pessoas a ter uma série de cuidados. "Desde que uma pessoa constata sintomas que são compatíveis com a febre hemorrágica, deve dirigir-se imediatamente ao posto sanitário mais próximo. Esses sintomas são, entre outros, uma febre muito forte, cansaço permanente, algumas vezes tosse e muitas dores de cabeça", explica.
Mais tarde, esses sintomas são diarreia e vómitos. "Uma atenção especial a ter é que se deve evitar qualquer tipo de contacto com a pessoa infetada, porque o contágio é muito fácil. Deve-se evitar principalmente tocar nos corpos de pessoas que morreram vítimas do vírus", acrescenta.
Existe alguma explicação para o regresso em força da epidemia, quando há bem pouco tempo se pensava que a epidemia tinha sido travada? Segundo o especialista, na verdade pensava-se que a propagação da epidemia tinha sido estancada, "mas infelizmente tudo indica que algumas famílias preferiram esconder os seus doentes".
Os especialistas afirmam que se não houver uma total colaboração das populações, e se as pessoas não estiverem devidamente informadas, a doença pode transformar-se com muita facilidade numa vaga epidemiológica. Entretanto, apesar da situação, por enquanto a OMS não recomenda qualquer restrição em viagens ou comércio na região.
A OMS descreveu este surto epidémico como um dos mais desafiadores desde que o vírus foi identificado em 1976, na atual República Democrática do Congo (RDC). Na altura, o surto matou 280 pessoas.
Nome do vírus deriva de rio na RDC
O ébola é um vírus tropical que pode matar as suas vítimas em dias, causando febres e dores musculares intensas, bem como vómitos e diarreia, e nalguns casos alguns órgãos deixam de funcionar, o que pode também levar a hemorragias incontroláveis.
Não há nenhum medicamento ou vacina para o ébola, cujo nome deriva de um pequeno rio na RDC.
Organizações de saúde caraterizam este surto como um dos mais perigosos e desafiadores porque as pessoas das áreas afetadas mostram-se relutantes em colaborar com as autoridades, e porque alguns mortos são enterrados noutras vilas.
As autoridades da África ocidental também não têm conseguido impedir que as pessoas toquem nos corpos durante os rituais funerários.