Mais de 11 mil detidos na Etiópia
14 de novembro de 2016As autoridades etíopes apontam uma longa lista de motivos por trás das 11.607 detenções registadas desde outubro, incluindo a incitação à violência e a destruição de propriedade pública e privada. A maioria das detenções ocorreu nas regiões de Oromia e Ahmara, os principais focos da vaga de protestos contra o Governo.
Segundo a organização de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional (AI), pelo menos 800 pessoas morreram às mãos das forças de segurança.
Não se registam protestos desde a declaração do estado de emergência, no mês passado, mas o investigador e ativista da AI, Fisseha Tekle, sublinha que a história ainda não chegou ao fim. "O facto de não haver protestos não significa que está tudo bem ou que tudo acalmou", diz.
"É apenas uma questão de tempo até que os manifestantes voltem às ruas."
O Governo, no entanto, tem uma visão diferente. "Esperamos que não haja mais protestos", afirma Mohamed Said, porta-voz do Executivo etíope. "A população da Etiópia está a debater com o Governo e haverá uma solução a longo prazo."
Executivo acusado de discriminação
A instabilidade teve início há um ano, depois de o Governo de Addis Abeba ter tentado expandir os seus poderes administrativos a Oromia, a região do povo oromo.
Os planos acabaram por ser abandonados, mas os protestos continuaram, com os oromo a lutar pela defesa dos direitos humanos e o maior reconhecimento do grupo étnico – o maior da Etiópia, abrangendo quase 40% da população de 102 milhões de pessoas.
Os oromo acusam o Executivo de discriminação. "Isto reflete-se não só na economia, mas também em termos de poder político", explica Fisseha Tekle, da AI.
Em novembro, o Governo etíope reagiu nomeando cinco novos ministros de origem oromo. Mas o líder da oposição Merera Gudina considera que é "demasiado tarde" para travar os protestos no país.
Com o estado de emergência em vigor, a Amnistia Internacional denuncia violações de direitos humanos, incluindo detenções arbitrárias em massa, restrição do acesso aos meios de comunicação e bloqueios da internet.
O Governo, na voz de Mohamed Said, não responde diretamente a estas acusações. "Temos de esperar pela Comissão dos Direitos Humanos da Etiópia", afirma. "Este órgão independente vai investigar todos os problemas, incluindo mortes."