A arte nas ruas da República Democrática do Congo
São jovens artistas congoleses e encaram a arte como um ato de equilíbrio. Aspiram à cena artística internacional e trabalham com as comunidades nunca esquecendo a sua identidade. A DW África foi conhecer alguns deles.
Tesouros escondidos de Kinshasa
Freddy Tsimba já mostrou as suas obras em vários países do mundo. Mora no bairro de Matonge, em Kinshasa, famoso pela vida noturna e perto do coração artístico da capital. É aqui que ele cria e armazena diversas obras. Na entrada está uma criação do artista de rua francês Goin intitulada "Peace unleashed', que numa tradução livre quer dizer algo como "paz libertada".
A sala de estar
A mulher gera a vida, então por que não dedicar a arte a ela, questiona Tsimba. As obras do artista estão por todos os cantos da casa e do pátio. Tsimba faz esculturas com colheres, chaves velhas e até invólucros de balas, recolhidas em regiões da RDC onde houve conflitos armados. Precisa de aproximadamente três meses para fazer uma escultura.
"Presas"
"Eu não interpreto a minha arte. São outros que fazem isso", diz o artista. As obras que faz não têm conotação política, insiste Tsimba, que garante não tencionar seguir esse rumo. Ainda assim, quase tudo o que faz é moldado pelos destroços da guerra. As esculturas de mulheres com as mãos para cima, na parede, como se estivessem à espera de serem revistadas, são um exemplo disso.
Bendita entre os homens
Posando para a foto junto à Academia de Belas Artes de Kinshasa, Julie Djikey até parece ser tímida. Mas é na rua que esta artista performativa mostra os seus trabalhos. No curso de arte de Djikey havia muitas mulheres mas poucas seguiram a carreira. Não é fácil sobreviver como artista. Djikey já andou pelas ruas da capital Kinshasa, de Yaoundé (Camarões) e de Hannover (Alemanha).
Sensibilizar é o objetivo principal
O trabalho de Djikey foca os problemas enfrentados pelas mulheres. Aqui, por exemplo, andiz pelas ruas como uma mulher sofredora, sem roupa, "vestida" com peças de carros. Fotos de Djikey foram publicadas em diversas revistas africanas, mas que a rotulavam como doente metal ou bruxa. Djikey acredita, no entanto, que se as pessoas olharem realmente para as suas performances entenderão a mensagem.
A cena artística de Kinshasa
Dolet Malalu é parceiro de Djikey nas performances. Ele acredita que a arte não deve ser exposta apenas em museus, mas deve confrontar as pessoas nas ruas. Foi ele que filmou Djikey enquanto ela caminhava pelas ruas de Kinshasa. As obras de Malalu refletem a cena artística da cidade. Por exemplo, quando retrata os "sapeurs", homens elegantes que andam bem vestidos pelas ruas.
A Kalashnikov dourada
Malalu mostra as suas obras do lado de fora da casa da mãe. Na parede estão os "sapeurs" e à frente uma instalação, em que Malalu está sentado. É um trono dourado, uma Kalashnikov de plástico e dois capacetes que representam as Nações Unidas e o exército. A instalação original estava cercada por arame farpado. Um trono de um ditador. Intocável.
O Inconvencional
O artista Kura Shomali desenhou uma imagem e agora pede às pessoas que preencham os espaços em branco. Shomali fez o desenho no seu bairro, nos arredores de Kinshasa. Uma grande obra feita por muitas mãos.
Aprender fora das salas de aula
As crianças desta pacata comunidade nos arredores de Kinshasa conhecem o artista como "aquele que foi à França e à Europa". Com Shomali, elas podem pintar e dar asas à sua criatividade. Afinal, não há aulas de arte nas escolas, apesar de a capital ter uma das melhores escolas de artes plásticas da região.
Rebelde?
Quando era estudante, Shomali rebelava-se contra a tradição de belas artes da Academia na capital da RDC. As suas obras costumam retratar pessoas famosas como o lutador de boxe Muhammad Ali, que veio a Kinshasa em 1974 para a luta histórica "Rumble in the Jungle". Outro tema recorrente nas pinturas de Shomali é o papagaio. Talvez seja a sua consciência?