Guerra na Ucrânia começou há quatro meses
24 de junho de 2022Passam quatro meses desde que a Rússia invadiu a Ucrânia. As Nações Unidas estimam que cerca de 5.000 civis foram mortos e mais de 15 milhões de ucranianos foram obrigados a fugir das suas casas desde o início do conflito.
Depois dos primeiros ataques oriundos das fronteiras a norte, leste e sul do país, incluindo à capital Kiev, as tropas de Vladimir Putin concentraram os seus esforços na região leste e sul da Ucrânia para estabelecer um corredor terrestre com a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.
Segundo Petro Poroshenko, antigo Presidente da Ucrânia, a Rússia acreditou que poderia fazer uma guerra relâmpago, mas "falhou". Encontrou forte resistência das tropas ucranianas.
"Por causa do Exército ucraniano, por causa dos nossos soldados, por causa da unidade do povo ucraniano, Putin percebe que a sua ideia de 'blitzkrieg' falhou", disse Poroshenko no início de março.
O chefe de Estado russo, Vladimir Putin, justificou a guerra - ou "operação militar especial", nas palavras do Kremlin - com a necessidade de "desmilitarizar" a Ucrânia para ajudar as regiões separatistas de Donetsk e Lugansk, alegadamente após a violação dos acordos de Minsk que visavam uma solução para o conflito nesses territórios.
Esta sexta-feira (24.06), as forças pró-Rússia da autoproclamada república separatista de Lugansk tomaram mais três localidades perto de Lisichansk, a última grande cidade sob controlo de Kiev no leste da Ucrânia após o anúncio da retirada das tropas ucranianas de Severodonetsk.
Crise alimentar e energética
A guerra na Ucrânia desencadeou uma crise energética global e uma crise alimentar.
De acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA, antes da guerra, a Ucrânia era responsável por 15% do comércio mundial de milho e 10% do comércio mundial de trigo. Mas com a Rússia a bloquear as exportações ucranianas nos portos do Mar Negro, há menos cereais disponíveis no mercado internacional, o que provocou uma subida dos preços, em especial no Médio Oriente e em África.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 (o grupo das sete maiores economias mundiais) anunciaram em comunicado, após uma reunião que decorreu esta sexta-feira (24.06) em Berlim, que a Rússia não só está a bloquear o acesso aos portos no Mar Negro, como também está a bombardear armazéns de trigo e infraestruturas agrícolas.
A guerra levou ainda a uma reviravolta no setor da energia.
A Rússia é o maior exportador de gás natural do mundo, o segundo maior fornecedor de petróleo bruto e o terceiro maior exportador de carvão. Mas, com a invasão à Ucrânia, a União Europeia decidiu acabar, de uma vez por todas, com a dependência da energia russa e procurar outras alternativas.
Um dos líderes da União Europeia anunciou esta sexta-feira que a Comissão Europeia está a preparar um plano comum de emergência para a redução da procura de energia, que será apresentado em julho aos líderes da UE.
Candidata à União Europeia
Em plena guerra, a Ucrânia alcançou em quatro meses aquilo que não conseguiu durante muitos anos: obter o estatuto de país candidato à União Europeia.
Os chefes de Estado e de Governo da UE concederam na quinta-feira (23.06) à Ucrânia e à Moldávia o estatuto oficial de candidatas à adesão ao bloco, depois de uma recomendação da Comissão Europeia na semana passada.
O Presidente ucraniano disse que foi um momento "único e histórico". De acordo com Volodymyr Zelensky, "o futuro da Ucrânia é dentro da UE".
O processo poderá, no entanto, demorar vários anos.
A Turquia, por exemplo, é candidata à adesão desde 1999. A Macedónia do Norte tem o estatuto de país candidato há 17 anos e a Albânia há oito. O processo depende do cumprimento de normas exigidas pela Comissão Europeia em diversas áreas - desde a independência da Justiça, ao combate ao crime organizado e à corrupção, entre outras.
A partir de domingo (26.06) e até terça-feira, a Ucrânia será um dos principais tópicos em discussão na cimeira do G7, que decorre na Alemanha.
Os líderes dos Estados Unidos, Canadá, França, Itália, Japão, Reino Unido e Alemanha deverão debater como prosseguir com as sanções à Rússia. O chanceler alemão Olaf Scholz referiu que será preciso deixar claro, durante a cimeira, que a Ucrânia pode contar com o apoio de que necessita "durante o tempo que for necessário".
O Presidente ucraniano foi convidado a participar na reunião.