"A China vê a África como continente de oportunidades", diz pesquisadora
1 de março de 2013Angola é hoje o segundo maior parceiro comercial da China no mundo lusófono, atrás somente do Brasil. Em 2012, as trocas entre angolanos e chineses aumentaram 35,5% em relação ao ano anterior. Além de Angola, as relações económicas entre a China e outros países do continente africano intensificaram-se nos últimos anos.
Os efeitos dessas relações e os interesses envolvidos são alvo de questionamentos. Muitos críticos dizem que a China está interessada somente nas matérias-primas africanas e não no desenvolvimento do continente.
Doris Fischer pesquisa a política económica chinesa e leciona na Universidade de Würzburg, na Alemanha. Ela formou-se em Sinologia e Administração de empresas e possui doutorado em Economia. Em entrevista à DW África, Fischer falou sobre algumas das particularidades das relações China-África.
DW África: Qual a importância da África para a China em comparação a outras regiões do mundo?
Doris Fischer (DF): As relações China-África desenvolveram-se muito rapidamente nos últimos anos. A China vê a África como um continente com muitas oportunidades. A maioria são países em desenvolvimento, de modo que ela pode estabelecer alianças. Do ponto de vista político, a África é importante. Uma prova é que acaba de ser anunciado que as primeiras viagens ao exterior de Xi Jinping como presidente serão para a Rússia e para a África. Do ponto de vista económico, os Estados Unidos e a Europa ainda são mais importantes, mas a China já atribui à África uma importância grande.
DW África: Quais são os principais interesses da China na África?
DF: Um dos principais interesses são os recursos naturais: petróleo e também outras matérias-primas e produtos agrícolas. O segundo motivo é que a China vê o potencial de desenvolvimento para projetos de infraestrutura e exportação de equipamentos de telecomunicação, por exemplo. E também para exportar para outros continentes.
DW África: A Angola ocupa um lugar especial nas relações com China-África? Pode-se dizer que, neste caso, o principal interesse da China são as matérias-primas?
DF: Sim, pode-se dizer isso facilmente. É o país que mais exporta para a China e é o mais importante fornecedor de petróleo da China na África. A China tem um grande déficit comercial com a Angola, porque importa muito e exporta pouco para a Angola. Mas, neste meio tempo, a China também tornou-se importante para a Angola como mercado.
DW África: Além de importar, a China também expandiu suas exportações para a África. Qual a dimensão dessas exportações para a África como um todo?
DF: A China exporta menos do que importa para a África. Mas a África tornou-se um importante mercado para equipamentos de telecomunicação, por exemplo, e também para bens de consumo, têxteis e aparelhos de telecomunicação. Há países com os quais a China trabalha principalmente no âmbito de matérias-primas e outros que servem sobretudo de mercado para a China. A África do Sul, por exemplo, é importante nos dois âmbitos. Recentemente, na crise financeira global, a balança comercial da China com a África mudou, porque o país precisa de menos matérias-primas para a produção destinada a mercados como a Europa e os Estados Unidos. Portanto, importou menos da África. Ao mesmo tempo, ela usou a China como mercado de substituição para produtos que não conseguia vender a outros mercados.
DW África: Como vê as relações China-África nos próximos anos? Continuarão em expansão?
DF: Sim, em média na África como um todo. Em detalhe, crescerão em intensidade diferente com cada país. A perspectiva fundamental da China em relação à África é diferente da perspectiva europeia clássica. A imagem frequentemente propagada na Europa é a de que se trata de um continente pobre, que precisa de ajuda para o desenvolvimento, e não de um local interessante para se investir. A ideia de que a África é um continente de oportunidades, com potencial de crescimento, chega aos poucos aqui, mas se estabeleceu mais tarde do que na China.
Autora: Luisa Frey
Edição: António Cascais