A amarga derrota do MPLA em Cabinda
30 de agosto de 2022A ida às urnas na província mais a norte de Angola já tinha ficado marcada por várias irregularidades relatadas pelos próprios eleitores. E ontem, após o anúncio dos resultados finais pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), o clima de tensão aumentou,
Cabinda foi palco de tumultos entre militantes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA). A sede do maior partido da oposição foi cercada pela polícia durante mais de duas horas.
Apesar da UNITA ter conseguido vencer o pleito no enclave, continuam a registar-se vários incidentes. Muitas pessoas estão descontentes com os resultados definitivos, que dão a vitória ao MPLA em todo o país. Alegam que os números não refletiram a vontade dos cidadãos.
Irregularidades da CNE
O taxista João Sumbo não poupa críticas à CNE: "Os votos ditados não convenceram ninguém. Se a votação terminou às 17h e a contagem às 18h - e houve inclusive assembleias que se estenderam até às 22h ou 23h - como seria possível à Televisão Pública de Angola (TPA) anunciar já resultados?", questionou.
Outros jovens, como João Puati, ponderam sair às ruas para manifestar-se. "Eu espero que a população toda possa decidir alguma coisa, porque isto é brincadeira - vamos votar e há fraude eleitoral. Votar ou não votar vai dar ao mesmo", desabafou.
O deputado da UNITA eleito pelo círculo provincial de Cabinda, Lourenço Lumingo, desafia o MPLA a apresentar as atas eleitorais, acrescentando que é do interesse de todos os angolanos que a CNE faça o mesmo.
"O número de polícias na rua significa que o MPLA perdeu não só em Cabinda, mas também no país. Se o partido do poder acha que não perdeu, não seria mais fácil desafiar a UNITA, comparando as atas?", disse.
Pleito de 2017
No pleito de 2017, a UNITA alcançou apenas um deputado em Cabinda; na altura, a CASA-CE elegeu dois parlamentares, tal como o MPLA. Nestas eleições, o maior partido da oposição em Angola conseguiu eleger quatro deputados, contra um do MPLA.
"Não me revejo em festejar em Cabinda. A vitória tinha de ser geral, até porque não me sinto realizado", comenta o deputado Lourenço Lumingo. "Nós concorremos para ser Governo e não tanto para o número de deputados".
O MPLA, mesmo perdendo localmente, organizou uma passeata para saudar a vitória de modo geral.
Algumas individualidades ligadas ao partido no poder, que pediram para não ser identificadas, disseram à DW que, apesar da UNITA ter eleito quatro deputados em Cabinda, isso em nada se irá refletir na governação, porque o Executivo continuará a ser do MPLA.