"A Dor do Parto": Exposição em Maputo homenageia a parturiente
O artista moçambicano Tiago Filipe João Rafael ("Massaka") realiza a primeira mostra individual no Centro Cultural Moçambicano-Alemão em Maputo. A exposição é um tributo à sua mãe, que morreu durante um parto.
Homenagem a todas as mulheres
As nove obras em pirogravura, a arte de esculpir/queimar a madeira com ferro em brasa, são uma homenagem de Massaka a todas as mulheres que perderam a vida no parto. A homenagem estende-se também a todas as mulheres pelo seu dom de dar à luz e gerar vidas. O artista pretende ainda convidar para uma reflexão sobre alegados casos de violência nas maternidades em Moçambique e o tráfico de bebês.
O Túnel da Morte
A obras "O Túnel da Morte representa o momento em que os médicos e parteiros tentam determinar a posição da criança para decidir se o parto será natural ou por cesariana", explica o artista. A criança encontra-se num túnel muito escuro, mas ela própria é a luz. Mas o túnel é da morte "porque no momento em que retiram a criança do ventre a da mãe, a gestante perde a vida".
Perspetiva da Dor
Aqui, a técnica mista envolve a pirogravura, mas igualmente desenho à esferográfica. O título deve-se "à sensação de estar a sentir - ou alguém estar a sentir - que algo está para acontecer", um pressentimento de morte que pode atravessar a parturiente, diz Massaka. "Ela pode não ter sentido a dor mas quem sofreu a dor foram as pessoas que ficaram", diz o artista, cuja mãe morreu no parto em 2010.
Salvar uma técnica ameaçada de extinção
Massaka explica porque recorreu à técnica tradicional da pirogravura. "O que me motivou foi ter constatado que, depois da Independência de Moçambique em 1975, só poucos artistas trabalhavam" com essa técnica. Após a morte do artista Jorge Nhaca (1943-1997), "a pirogravura entrou em colapso", colocando em perigo a sobrevivência da técnica, "porque o seu mestre não deixou discípulos".
A Dor do Parto
"Esta obra é o conjunto de todas as obras que eu fiz. Acabei por intitulá-la 'Dor do Parto' porque reúne todos os problemas da situação da dor do parto", diz Massaka. "Produzi imagens da barriga cortada, tentei fazer o raio X da barriga, tentei mostrar o interior do ventre, o desenvolvimento do embrião. Quis tentar mostrar esse processo de uma forma surreal."
O Pico da Contração
"Apesar de pequeno, este quadro retrata uma situação grande: o pico da contração", diz o artista, que imagina o momento em que a mulher sente que está prestes a dar à luz, mas algo impede o processo natural, pelo qual os médicos recorrem à cesariana.
O Décimo Mês
"O Décimo Mês" ilustra a gravidez que ultrapassa o período normal de gestação de nove meses. "Inspirei-me na situação da minha mãe", diz Massaka. Um dia, o artista perguntou à mãe o que acontece quando a gravidez ultrapassa os nove meses. "E a minha mãe disse-me que a mulher morre. Foi isso que aconteceu com ela: passou o nono mês, chegou ao décimo mês e foi quando ela perdeu a vida".
Marcas do Nascimento
"As marcas são boas, mas ao mesmo tempo não são", diz Massaka, que colocou marcas do parto na criança, embora, na realidade, sejam as marcas da mãe. "Mas a mãe como não está em vida, as marcas ficaram para o filho". São marcas de dor, mas também da felicidade, pela oportunidade de vir ao mundo e não ter partido junto com a mãe. "Houve uma troca de vida", diz.
Cicatriz do Bisturil
A parte final do processo: depois das contrações, da dor, os médicos examinam a paciente para decidir o tipo de parto adequado. "Descobriram que a mulher, neste caso a minha mãe, tinha problemas. Então, submeteram-na a um parto de cesariana". A mãe de Massaka não resistiu. "Por isso, chamei-lhe 'Cicatriz do Bisturil'. Inspirei-me na cicatriz que ela levou com ela, mas que ficou na nossa mente".