"O Estado não se pode esconder"
19 de novembro de 2015O julgamento dos 17 ativistas, acusados de prepararem uma rebelião, decorre sob fortes medidas de segurança. Os jornalistas continuam sem poder entrar na sala de audiências.
As sessões arrancaram na segunda-feira, na 14.ª Secção do Tribunal Provincial de Luanda, em Benfica, e estão agendadas até sexta-feira. Mas, em quatro dias, além da leitura da acusação e do despacho de pronúncia, só três dos 17 arguidos foram ouvidos; o interrogatório de um deles continuará na sexta-feira.
Segundo David Mendes, um dos quatro advogados que defendem os jovens ativistas, os interrogatórios poderão durar duas semanas.
Procuradora "está a usar uma máscara"
No entender de Mendes, até agora, o julgamento está a correr "bem".
"Estamos a fazer uma mistura de perguntas, mas também a debater as provas. Estamos a questionar vários elementos acarretados como elementos de prova, que não são. Questionámos como é que o juiz da causa seria ele próprio a trazer provas para o processo. Isso significa um juízo inquisitório e o nosso sistema é acusatório. Foi, para nós, um erro processual muito grave."
Em entrevista aos jornalistas, num dos intervalos da sessão desta quinta-feira (19.11), Mendes teceu críticas ao trabalho da Procuradora.
"Está-se a cometer alguns erros que podem vir a concorrer para a anulação do processo, se continuarem. Mas, na generalidade, o juiz está-se a portar bem com a excepção de uma ação muito clara que nós protestámos", precisou o advogado. "A Procuradora está a usar uma máscara que ninguém sabe quem está aí escondida. Para nós isso é muito grave. A Procuradora representa o Estado e o Estado não se pode esconder. A Procuradora está a esconder o seu rosto, não quer que ninguém saiba quem é ela, o que é grave".
Livro de Domingos da Cruz lido no tribunal
Esta quinta-feira, o tribunal ordenou a leitura do livro do professor universitário Domingos da Cruz, um dos arguidos, que serve de base à acusação. A defesa criticou esta decisão porque isso só vem alargar ainda mais o tempo dedicado a esse julgamento.
"O que interessa aqui é a verdade material. Ao contrário do que se disse por aí, que os advogados não recorreram do despacho de pronúncia. Só um advogado inexperiente é que recorre de um despacho de pronúncia com réus presos. Nós não somos inexperientes e não caímos nesse tipo de rasteira. Sabemos o que queremos e sabemos para onde queremos ir. Por outro lado, hoje compreendi uma das coisas que levaram a não nos dar os processos, a confiança. Está no processo uma fotografia da minha filha e onde está escrito 'filha de David Mendes'. Porquê? Isso dá para se tirar as ilações."
Os advogados de defesa continuam a insistir na libertação dos arguidos em prisão preventiva - conforme a lei prevê para este tipo de crime - e afirmam que a ação destes jovens, com idades entre os 18 e os 33 anos, se enquadra na liberdade de expressão e reunião.