A realidade da informação em Moçambique e no mundo
19 de junho de 2013Foram mais de dois mil participantes presentes no ciclo de conferências organizado pela Deutsche Welle (DW), Global Media Forum (GMF), que patrocina o encontro de jornalistas, membros de ONGs e bloggers oriundos dos quatro cantos do mundo, para discutir e repensar a posição dos media globalmente. Foram cerca de cinquenta debates e workshops, incluindo quarenta grupos de trabalho para os mais de dois mil participantes desta sexta edição.
Esta quarta-feira (19.06), o ciclo de conferências foi encerrado com um discurso sobre economia e direito humanos e os valores do mundo globalizado. No primeiro dia, o nome que se destacou nas conferências foi o linguísta e filósofo americano, Noam Chomsky, que apresentou a sua visão crítica do mundo contemporâneo. Na terça-feira(18.09), os trabalhos do GMF contaram com o discurso do chefe da diplomacia alemã, Guido Westerwelle, e ao fim do dia foram entregues os prémios The Bobs, um concurso patrocionado pela Deutsche Welle, que pretende premiar o melhor blog activista da web. O primeiro prémio foi arrecadado pelo chinês Li Chengpeng, sendo que diversos bloggers africanos foram destacados noutras categorias.
Em Moçambique a "imprensa é completamente livre"
E nesta presença africana, dois dirigentes de dois meios de comunicação de Moçambique, estiveram presentes neste ciclo de debates. João Ribeiro, director da Televisão Independente de Moçambique (TIM), parceira da DW, contou qual o espaço dos media no seu país. "Nós temos em Moçambique, neste momento, uma situação ligeiramente privilegiada", afirmou Ribeiro pois na sua prespectiva, "a imprensa é completamente livre" em Moçambique, e "não há uma forma de coação directa sobre o texto que se faz". Os conteúdos informativos são emitidos sem qualquer censura, pois segundo o diretor da TIM "não há capacidade no país, não há organização, para fazer qualquer tipo de controlo de informação". E porque "hoje utilizamos muito os meios alternativos de comunicação", como a "internet, jornais electrónicos, faxes, as próprias televisões, o Estado não tem capacidade para estar permanentemente em cima dessas coisas", afirmou.
A irmã Idalina Patia, responsável pela rádio Nova Paz em Quelimane, uma rádio parceira da DW, afirma por seu lado, que apesar de não haver uma total liberdade na produção dos conteúdos, os media moçambicanos garantem rigor e imparcialidade nos conteúdos jornalísticos que emitem. "A imprensa já vai trabalhando na investigação, apesar de não ter aquela liberdade que devia ter.
Mas, segundo Idalina Patia, "os jornalistas já se esforçam em fazer alguma coisa, no sentido de trabalhar com imparcialidade, ir buscar a informação e divulga-la sem muita pressa depois de uma certa investigação", afirmou. Acrescentou que, "não podemos dizer que estamos livres de divulgar aquilo que nós queremos... em algum momento encontramos uma certa limitação". Para a responsável da Rádio Nova Paz, "nós pensamos que somos imparciais. E porque somos imparciais? Porque uma das coisas que fazemos, é dar espaço ao povo, dar espaço aos nossos ouvintes", concluiu.
Imprensa substitui o poder judicial
Contudo, na opinião de João Ribeiro, em Moçambique e nos media, há espaco à crítica mas estas, muitas vezes, não têm reação por parte do executivo. "Há espaço à crítica, o que não há é muitas vezes espaço à resposta à critica, que são duas coisas diferentes", diz o director da televisão TIM. Afirma que hoje "já é possível abrir o jornal e ver uma acusação directa ao Presidente da República, às vezes até demasiado explícito", mas que "é muito difícil conseguir obter-se respostas, quer seja à altura, quer seja em tempo útil para servirem de matéria para os jornais". Segundo João Ribeiro, vive-se "um clima em que se pode fazer perguntas mas não se tem direito à resposta".
Com a proximidade das eleições autárquicas em Moçambique, o director da TIM, afirma que os media cumprem a função de difusores de informação. "A imprensa vai apoiar, vai estar perto do processo, não de um partido, não de uma força política, mas do povo, das pessoas que precisam ter a garantia de que aquilo é transparente, é justo, independente e isso é o papel que a imprensa vai fazer e tem feito". Contudo, para além desta função informativa, João Ribeiro diz que "a imprensa substituiu bastante os orgãos judiciais e os tribunais de Moçambique, muita coisa é julgada na imprensa. Por um lado podemos dizer que é muito mau, por outro lado, às vezes é a unica solução que existe", afirma o director.
Com o ciclo de conferências terminado, contam-se três dias de debate do posicionamento e da actuação dos media no mundo, que originaram também reflexão sobre as realidades de cada país.