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A relação entre o jornalismo e o poder em Angola

José Adalberto
20 de junho de 2019

A recente eleição de jornalistas para o Comité Central e Bureau Político do MPLA reacendeu o debate sobre questões éticas do jornalismo em Angola. E há quem diga que há "agentes infiltrados" nas redações.

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Foto: DW/António Cascais

A eleição das jornalistas Joana Tomás, diretora do canal internacional da Televisão Pública de Angola (TPA), e Djamila dos Santos, pivot do telejornal da TV Zimbo, para o Bureau Político e Comité Central do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), respetivamente, durante o Congresso Extraordinário do partido, no último fim de semana, virou assunto nas redações angolanas. Isto porque ambas ainda não manifestaram interesse em se afastar da profissão para assumir as atividades no partido.

Falando à DW África, Teixeira Cândido, secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), afirma não existir qualquer impedimento legal que obrigue as jornalistas a não exercerem a profissão, pois não foram eleitas para cargos políticos.

No entanto, o secretário-geral do SJA vê na ética e deontologia profissional um impasse. Segundo afirma, as jornalistas podem encontrar dificuldades para se posicionar diante de matérias em que o MPLA é visado.

"Ser membro do Comité Central, à partida, não é um cargo político. É verdade que, em termos políticos, a pessoa não terá distanciamento para exercer o jornalismo fundamentalmente quando tivermos assuntos do partido do qual fazem parte e outros partidos que estejam a disputar. Aí o distanciamento do jornalista é muito crítico", esclarece Teixeira Cândido.

Angola Teixeira Cândido
Teixeira Cândido, secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas AngolanosFoto: DW/M. Luamba

Apelo ao afastamento

O também jornalista Alexandre Neto Solombe defende que as jornalistas eleitas para o Comité Central e Bureau Político do MPLA deixem o exercício da profissão e se dediquem somente à política partidária.

Solombe entende que "a existência de um comité de especialidade dos jornalistas no MPLA era indiciador que, efetivamente, estas pessoas chegariam a lugares cimeiros".

"Que tenham a honestidade suficiente para porem o lugar à disposição, e que se dediquem exclusivamente a atividade política em vez de continuar a fazer jornalismo ao nível das redações, porque é um elemento perturbador", apela o jornalista.

"Agentes infiltrados"

Entretanto, Alexandre Solombe denuncia a existência de pessoas estranhas ao jornalismo nas redações angolanas, cuja função é dificultar o trabalho dos profissionais tidos como críticos aos interesses do Executivo.

Angola Wahlen Zeitungen
Jornais angolanos (foto de arquivo/2012)Foto: António Cascais

"Este é um caso menos grave comparativamente àqueles agentes infiltrados nas redações, e cuja missão é informar qual dos jornalistas é eventualmente mais crítico na concessão dos artigos que produz", revela Solombe, que afirma que "o trabalho na identificação destes agentes é que um grande desafio" para os jornalistas angolanos atualmente.

Herança do passado

O jornalista Coque Mukuta concorda com as opiniões de Teixeira Cândido e Alexandre Solombe, mas acrescenta que esta realidade vem do passado. E diz ser importante que o jornalista afaste-se da profissão caso esteja envolvido na política.

"Estes são os vícios do passado. E vai ser ainda bastante dificil de nós, enquanto profissionais da comunicação, percebermos que não é nem moral e nem ético ser jornalista e exercer uma função num partido político, pois pode haver choque entre os conteúdos que estejamos a tratar e o nosso próprio partido".

A DW África tentou ouvir as jornalistas Joana Tomás, diretora do canal internacional da TPA, e Djamila Dos Santos, pivot do telejornal da TV Zimbo, mas não obteve resposta.

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