A um mês das eleições, Guiné-Bissau aguarda decisão da CEDEAO
24 de outubro de 2013A Guiné-Bissau está com os olhos postos em Dakar, capital do Senegal, onde os presidentes dos países da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), deverão anunciar, na próxima sexta-feira (25.10), uma data definitiva para a realização de eleições gerais no país.
Para além dos atrasos verificados em todo o processo eleitoral que se encontra bloqueado no terreno, a Guiné-Bissau diz não ter dinheiro para realizar o recenseamento nem as eleições, marcadas para o dia 24 de novembro.
Para o representante especial do secretário-geral da Organização das Nações Unidas em Bissau, José Ramos-Horta, o escrutínio este ano "é de todo impraticável" mas sublinha que não pode ser adiado "muito para além das primeiras semanas de 2014".
Cimeira da CEDEAO em Dakar
Ramos Horta não se quer antecipar ao Presidente da República interino pois "esta é a responsabilidade e competência dele". No dia 24 de outubro, em Dakar, o Presidente vai "ter que informar a CEDEAO". Nessa data, haverá um acordo entre a organização e o país lusófono "sobre uma data para o fim da transição e eleição", remata Ramos-Horta.
Na passada segunda-feira (21.10), a União Europeia entregou dois milhões de euros ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) para apoiar as próximas eleições gerais na Guiné-Bissau.
Os fundos transferidos para o PNUD provêm do designado Instrumento de Estabilidade criado pela União Europeia para apoiar, entre outras, as ações dirigidas ao desenvolvimento e à consolidação da democracia, refere a delegação dos 27 em Bissau.
Segundo a CEDEAO, o período de transição deveria terminar antes do final do corrente ano, com a organização das eleições gerais. No entanto, a pouco mais de um mês da data marcada para o pleito, o recenseamento eleitoral ainda não começou e o adiamento já era admitido por diversas autoridades.
Falta de vontade política, acusa analista
Nas palavras do analista político guineense, Rui Landim a falta de vontade política do Governo fez com que o processo fosse paralisado. Landim destaca que o Governo fez pouco para organizar as eleições em novembro próximo.
Para ele, essa inoperância indica que "não há vontade e que pelo contrário, está-se a fazer tudo para inviabilizar a realização das eleições, e consequentemente, empurrar o país para o caos e para a crise", conclui.
Situação de fome a agudizar-se na Guiné-Bissau
Enquanto as autoridades nacionais e os parceiros internacionais discutem a realização das eleições, a Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO), denuncia que a instabilidade política na Guiné-Bissau esteja a provocar uma situação de insegurança alimentar.
Segundo Hélder Muteia, a crise política que se vive na Guiné-Bissau "faz com que mecanismos de acesso ao mercado e mecanismos sociais sejam afectados" o que resulta, "numa mobilidade forçada das pessoas para os ambientes urbanos".
Já o encarregado da FAO em Bissau, Rui Fonseca, alertou que a carência alimentar deverá estar a aumentar na Guiné-Bissau e deve afetar mais de 260 mil pessoas, num país com cerca de 1.6 milhões de habitantes.
A má campanha de caju, principal receita das famílias rurais, e a crise causada pelo golpe de Estado de abril de 2012 são as principais razões para os guineenses, sobretudo os que residem em zonas rurais, não terem dinheiro para comprar comida.
Muitos vêem-se obrigados a reduzir o número de refeições que ingerem e por vezes, ao longo de um dia apenas comem frutos silvestres.
De acordo com Rui Fonseca, um inquérito realizado em 2011 mostra que "20% da população rural guineense estava num estado de insegurança alimentar severa", correspondendo "a cerca de 179 mil pessoas".