Acordo CPLP: São Tomé e Príncipe irá perder população jovem?
26 de dezembro de 2021Faltam poucos dias para a entrada em vigor do acordo "histórico” na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, (CPLP), que permite a livre circulação entre os país que compõem a comunidade.
Para já, o acordo abrange apenas Portugal, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e a Guiné-Bissau, países que já entregaram ao secretariado-executivo da organização os instrumentos de ratificação.
O acordo foi alcançado na cimeira de Luanda, em julho passado, como explica o primeiro-ministro de Portugal, António Costa, que esteve de visita a SãoTomé e Príncipe.
"Gostaria de congratular-me por termos sido dos três primeiros países que contribuíram para que o acordo de mobilidade no âmbito da CPLP entre em pleno vigor no próximo dia 1 de janeiro".
Alívio para a juventude
O acordo de mobilidade, há muito aguardado, representa, segundo António Costa, "uma enorme responsabilidade para o futuro das novas gerações”. Mas significa também um alívio para a juventude.
Centenas de estudantes são-tomenses anualmente tentam estudar em Portugal mas muitas vezes sem sucesso devido às exigências do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).
"O problema da concessão de vistos aos estudantes de São Tomé, para Portugal, não voltará a colocar-se. Este é um exemplo de grande passo em frente que damos com este acordo de mobilidade".
Por isso, Jorge Bom Jesus, primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, considera o acordo de mobilidade alcançado pela CPLP como sendo o início de uma nova era para a organização com vinte e cinco anos de existência.
"O que vai permitir ultrapassar esta ‘CPLP das reuniões', dos grandes fóruns, muito institucional, para uma ‘CPLP das pessoas', sobretudo nós que temos uma juventude, é bastante importante esta interação entre jovens dos nossos espaços comunitários", salientou.
Sociólogo deixa alerta
Ouvido pela DW África, o sociólogo Olívio Diogo, congratula-se com o acordo de livre circulação, mas alerta que poderá representar uma diminuição da população jovem em São Tomé e Príncipe.
Teme que possam servir para repovoar os concelhos desabitados em Portugal, comprometendo, assim, o desenvolvimento do arquipélago lusófono de 200 mil habitantes.
"O que vai acontecer é que Portugal irá receber esses estudantes, que vão para concelhos que têm menos habitantes. E São Tomé e Príncipe que é um país muito pequeno, com 200 mil habitantes, entra numa avalanche para enviar estudantes. Daí que a economia portuguesa aumentará a sua mão-de-obra, aumentará o pagamento dos impostos laborais que existem. Em contrapartida, nós, em São Tomé e Príncipe, teremos uma fuga maciça da juventude, mão de obra ativa", afirma.
Também Moçambique já ratificou o acordo de mobilidade, enquanto Angola já o fez aprovar no Parlamento.