Dhlakama acredita que esteja ser planeada a sua morte
31 de maio de 2016DW África: Nas últimas semanas têm surgido informações sobre a existência de valas comuns e corpos espalhados pelas matas da região centro de Moçambique. A RENAMO sabe a que estão relacionadas essas mortes?
Afonso Dhlakama (DA): Não, o que posso confirmar e que tenho conhecimento, é que houve raptos e pessoas sequestradas sobretudo entre fevereiro e abril, não só na região da Gorongosa, embora aqui tenha sido muito intenso, como uma forma da FRELIMO caçar ou desmoralizar a RENAMO. Perdemos muitos membros, simpatizantes, jovens da vila da Gorongosa. A vala comum referida ou descoberta há um mês foi aqui na Gorongosa, no posto administrativo de Ncanda, que faz fronteira com o distrito de Macosa, onde encontraram pessoas esquartejadas e metidas em sacos de plástico. Primeiro a FRELIMO desmentiu, como sempre, só depois quando os jornalistas se deslocaram e tiraram fotos, sem avisar o Governo, e terem publicado as imagens é quando o Governo começou a acreditar.
DW África: O senhor Afonso Dhlakama acredita que o Governo da FRELIMO esteja a preparar uma "solução Savimbi" para o seu caso?
AD: Sim, acredito. Não tenho dúvidas, mesmo. Só que é diferente, Savimbi nasceu em Angola, era angolano, aconteceu nas matas de Angola, Afonso Dhlakama é moçambicano, nasceu aqui e as coisas são totalmente diferentes. Mas que há planos, sim, há. Agora que estou a falar eles pensam que a morte do Dhlakama é o fim da democracia em Moçambique e que é o fim da RENAMO.
DW África: E para isso acha que o Governo da FRELIMO conta com o apoio do MPLA e com a participação de mercenários israelitas como alguns suspeitam?
AD: Seria uma afirmação falsa, mas eu não nosso posso [dizer]. Mas que o Governo da FRELIMO tenha um plano, até hoje que estamos a falar, para matar o Dhlakama, isso tem, como forma de acabar com toda a confusão. Agora, que tenham planos de pedir a especialistas do MPLA e israelitas isso não posso confirmar. Mas o plano está muito bem vivo, não está esquecido.
DW África: A imprensa moçambicana e algumas pessoas nas redes sociais têm noticiado ataques constantes contra veículos civis e autocarros e alguns têm acusado a RENAMO pelos atos. Confirma isso?
AD: Há um conflito militar aqui, por exemplo, eu estou aqui na região da Gorongosa, Moçambique é um país muito comprido. E a estratégia da FRELIMO é planificada em Maputo, [refiro-me] aos treinos, os comandos, mercenários, canhões, BTRs, etc. Ora, de Maputo para o Centro temos uma única estrada, conhecida como Estrada Nacional Número Um (N1). É por aí que transitam os contigentes militares para escravizar e esmagar as populações do Centro e Norte. Porque os militares esmagarem a RENAMO não é possível, já vimos isso no passado. Mas quem sofre com isso é a população dessas regiões acusadas de estarem a dar apoio a RENAMO. Então, temos uma defesa própria, temos direito a defesa, a resposta e a vida e, de facto, temos montado emboscadas nessas estradas para diminuir a logística do inimigo. Só que a FRELIMO, e toda a gente sabe, usa até viaturas [ civis para isso]. É difícil ver as FADEMOS, forças armadas, usarem carros militares, talvez a circularem na cidade de Maputo. [Mas] quando circulam nos distritos, de província em província, entram nos machimbombos para se misturarem com civis para nos fazerem pensar que estão a passar por passageiros e entram nos camiões de civis. Nós não somos estrangeiros, somos nacionais e sabemos que os machimbombos estão cheios de [gente] da FRELIMO e atacamos para não trazerem o inimigo para nos matar. Não estamos a atacar o machimbombo por ser um carro civil e não estamos a atacar nenhum carro civil.
DW África: Há pouco tempo, em Bruxelas, o Presidente Nyusi quando foi questionado sobre os confrontos militares em Moçambique ele preferiu qualificar isso de distúrbios. Vê a situação da mesma maneira?
AD: Não, eu penso que é uma guerra porque são militares do exército comandados pela FRELIMO, é uma guerra. Distúrbio é quando um bandido qualquer chega a uma aldeia e quer violar uma mulher ou um bêbado qualquer chega numa festa e disparou para o ar e é preso pela polícia. Esta é uma guerra porque a FRELIMO continua a receber armas dos países comunistas, inclusive muito desse dinheiro da dívida, chamada dívida externa, que não é dívida pública, é dívida dos elementos da FRELIMO e uma parte desse dinheiro [foi usada] para comprar canhões, alimentar militares, pagar mercenários para terem motivação para irem matar [os membros]. da RENAMO. Portanto, não é distúrbio é uma guerra declarada pela FRELIMO. Para nós RENAMO, como seres humanos, não podemos cruzar os braços porque queremos ser bons meninos, porque queremos que a Europa diga que o Dhlakama é o melhor líder, não. Eu tenho vida, família, crianças, tenho de me defender. Se alguém me vem atacar em casa e eu me defendo, não posso ser chamado de bandido e nem de belicista. Seria belicista se mandasse atacar lugares e pessoas. Todos os confrontos militares do nosso lado estão apenas em defesa dos ataques da FRELIMO. Por exemplo, agora, todo o mundo está a espera de um resultado dos contactos entre as duas equipas, mas estão a disparar aqui na Gorongosa, dizem que querem apanhar o Dhlakama e obrigá-lo a ir a Maputo.
DW África: A dívida pública é um assunto que está a agitar Moçambique. Qual a sua opinião sobre o endividamento e a maneira como está a ser gerido pelas autoridades?
AD: Não se trata de dívida pública, vamos corrigir. Porque se dissermos dívida pública queremos dizer que o Governo moçambicano foi a Asssembleia da República fazer o informe antes de contrair esta dívida. Queremos acreditar que as instituições de soberania têm conhecimento disso, mas não é um grupo da FRELIMO, juntamente com os seus amigos empresários, que foram pedir aos bancos europeus, e estes também sem verificar, entregaram milhões e milhões de dólares, e esse dinheiro não foi aplicado para o bem do povo de Moçambique. Eu, como líder [da RENAMO], não quero puxar a sardinha para a minha brasa. Sinto muito pelos cortes no apoio do Banco Mundial, americanos e União Europeia porque conheço a situação de Moçambique. Muitos funcionário públicos recebem os seus salários através do Orçamento de Estado reforçado por esse dinheiro que está sendo cortado. Mas é preciso, de facto, investigarmos e encontrarmos os responsáveis por essa dívida e que sejam responsabilizados, porque eu, como cidadão, e os meus filhos, a minha família e os meus vizinhos não podemos contribuir com taxas e impostos para pagar essa dívida, cujo valor não foi aplicado para o nosso bem estar. Foi [usado] para comprar coisas para a família de alguém.
Portanto, a minha posição está tomada, e muitos estão a atacar o Guebuza, mas não é só ele, o próprio Nyusi é culpado porque se ele tomou posse em 2015, já com ministros e gabinetes, tinha de verificar o que estva nos cofres e nos papéis, porque se tratava de um novo Executivo. Mas não disse nada, porque concordou com esses roubos. Fico a saber também, ou a acreditar, que a campanha eleitoral foi das mais caras dos líderes da FRELIMO. Milhões e milhões foram gastos, onde a FRELIMO apanhou esse dinheiro? Quero acreditar que o Nyusi também sabe, também foi ministro da Defesa. Se o dinheiro foi desviado para a compra de material, ele sabe muito bem. Sabemos que na quarta-feira (01.06.) o Governo vai explicar no Parlamento, e vai tentar enganar, porque a bancada do meu partido há bastante tempo que envia cartas ao Governo exigindo que viesse explicar a dívida externa, mas o Governo dizia que não queria porque tinha receio da RENAMO. Mas com a pressão da União Europeia, da comunidade internacional, nós também já sabemos que vai haver uma sessão extraordinária. O que me preocupa é como responsabilizar os culpados que usam a desculpa da compra dos barcos para a pesca do atum, não há nenhum atum. Foi [usado] para organizar a segurança. Então, essas empresas todas que dizem que foram financiadas não morreram, então que mostrem os papéis, e que fique escrito em ata que essas empresas moçambicanas juntamente com os dirigentes da FRELIMO assumam a divida como particular e não como pública, no reforço do Orçamento Geral do Estado (OGE). Moçambique é um Estado pobre, os impostos não são suficientes para constituir o OGE.