Africanos devem beneficiar da agricultura no continente
26 de abril de 2013Como se pode modernizar a agricultura africana, de modo a que ela beneficie também a população local e não prejudique o meio ambiente? Estas foram questões debatidas na Semana Empresarial Africana, que decorreu de 22 a 26.04 em Frankfurt, na Alemanha. Ministros e delegações de mais de 30 países africanos e europeus reuniram-se sob o lema "Doing business - Sharing sucess (fazer negócios - partilhar sucessos)
Quem quiser investir na agricultura em África deve também apoiar os pequenos agricultores africanos, para que possam aumentar a produção e os lucros. É o que exige Mpoko Bokanga da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO). Um benefício adicional seria impedir o êxodo para os centros urbanos, e explica:
“Podiam ser introduzidas tecnologias. O trabalho devia ser mecanizado. O que tornaria a agricultura mais atraente para os jovens. E aumentaria a produtividade, claro está. Todos acabariam por ganhar”.
Novas tecnologias não são solução universal
Mas a técnica moderna só por si não é a panaceia universal, salienta Bokanga. Por isso, a UNIDO tem na mira toda a cadeia de produção: o cultivo da terra, a colheita, a transformação e a comercialização dos produtos agrários.
O empresário alemão, Carl Heinrich Bruhn, afirma que é isso precisamente o que faz a sua firma, a Amatheon. Esta empresa pretende criar na África unidades de produção agrárias de alta prestação, para garantir rendimentos elevados aos seus acionistas. Para um primeiro projecto, Bruhn arrendou 30 000 hectares na Zâmbia por um período de 99 anos. A Amatheon, explica Bruhn, desenvolveu um conceito em colaboração com os agricultores locais, pensado para beneficiar toda a gente. Por exemplo, até agora os agricultores naquela região remota não tinham acesso a adubos, sementes ou pesticidas. Segundo Bruhn,
“da nossa fazenda central distribuiremos todo este material com o qual os pequenos agricultores poderão iniciar o seu próprio ciclo de produção”.
Segue-se uma segunda etapa, já que “até à data também não havia acesso aos mercados para a venda dos próprios produtos. Nós propiciamos esse acesso, porque podemos adquirir a produção e transportar para a capital graças à nossa logística”, afirma o empresário.
Ceticismo da WWF sobre o crescente interesse pelas terras africanas
A organização não-governamental de protecção do ambiente WWF observa com ceticismo o interesse crescente por chão africano. A WWF admite a necessidade de aumentar a produção de alimentos, diz Birgit Wilhelm, responsável pela agricultura sustentável na secção alemã da organização. Tanto mais que 60% da terra arável não cultivada no mundo se encontra em África, diz. Mas, acrescenta, há que ter em conta que o solo africano é pobre em nutrientes, como os investidores sabem:
“Diz-se que os solos são pobres, que precisam de nutrientes, e, portanto, o adubo tem que ser aplicado levando em conta os processos e o ecosistema local. O que custa dinheiro porque exige investimentos em estudos, e estes são investimentos de longo prazo. Há que contar com, pelo menos, dez anos”, diz o especialista da WWF.
O que se aplica sobretudo à produção de biocombustíveis, onde os investidores tendem a procurar o lucro rápido, e depois de alguns anos abandonam o solo exausto, avisa Wilhelm. Em seguida procuram por novas terras. Este ciclo vicioso destrói a biodiversidade e prejudica para sempre a fertilidade dos solos.