Agricultores do Uganda revelam fórmula do sucesso
22 de abril de 2013"Olhe para ali", diz Vincent Ssoko, apontando para as suas bananeiras, um grande manto verde a oscilar com a brisa quente. "Digo sempre aos meus vizinhos: Façam como eu. Cavem um buraco que dê às plantas espaço suficiente para crescer, encham-no com estrume e não ponham as plantas muito próximas umas das outras." Os vizinhos compram adubo caro para aumentar a produção, mas têm piores colheitas, conta o agricultor ugandês.
A vida corre bem a Vincent Ssoko. Em 1998, Ssoko começou num terreno do pai, com três hectares. Hoje, já cultiva produtos em 49 hectares. Os seus campos ficam na região de Kayunga, a três horas de carro da capital, Kampala.
A receita para o sucesso: A agricultura biológica. Não é nenhuma ciência, diz o agricultor de 46 anos. "Trata-se apenas da rotação de culturas e da utilização de estrume de vacas em vez de químicos caros. E, em vez de pesticidas, utilizo urina e cinzas contra as pragas de insetos."
Orgânico traz mais lucros
Hoje em dia, Ssoko planta bananas, ananases e café – todos produtos biológicos e frutos de exportação do Uganda, que se dão bem no clima quente e húmido.
Ssoko tem um certificado de produtor biológico. Com o documento na mão, pode exportar as suas colheitas para a Europa. Ssoko aponta orgulhoso para os seus ananases: 20 cêntimos de euro é quanto o agricultor recebe por fruto. No mercado local, ele só receberia uma pequena fração desse valor, 4 cêntimos.
Se África quiser saciar a fome, há uma simples fórmula que os 900 milhões de agricultores no continente podem seguir. As colheitas têm de aumentar significativamente e os custos de produção devem reduzir drasticamente.
Um estudo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente mostrou num relatório de 2010 como é que isso pode ser feito. O estudo diz que as receitas podem aumentar até 80% com a agricultura biológica.
De tudo um pouco
Em Kampala, Judith Nabatanzi está sentada em frente ao computador e escreve no teclado. Nabatanzi é diretora da "Shop Organic" – "Compre biológico". Aqui, pode-se encontrar de tudo um pouco. De vagens de baunilha a cenouras orgânicas, passando por cremes de mão biológicos de Jojoba.
Nabatanzi recolhe as ordens dos clientes para o serviço de entregas. "Os agricultores da região dizem-nos que produtos estão disponíveis com até um dia de antecedência. Os nossos clientes fazem depois os pedidos, que estou a recolher. A seguir, faço a guia de remessa e reúno os produtos", diz. Hoje é um dia movimentado.
A "Shop Organic" é a única do género no Uganda e pertence à Nogamu, a associação-mãe dos agricultores biológicos ugandeses.
Maiores colheitas
O diretor da Nogamu, Moses Muwanga, recebe os jornalistas da Alemanha com uma taça de chá verde biológico, "Made in Uganda". Ele confirma os números do Programa das Nações Unidas: a agricultura biológica traz, de facto, um aumento dos lucros para África. Muwanga conhece casos em que os rendimentos chegaram mesmo a duplicar:
"Muitos agricultores cultivam produtos biológicos quase automaticamente. Ou seja, não usam substâncias sintéticas. Mas, ao mesmo tempo, não utilizam métodos da agricultura biológica. Mas assim que usam adubo natural ou fazem a rotação de culturas, por exemplo, os lucros duplicam".
O volume das colheitas também aumenta, garante Moses Muwanga. "Porque a terra está praticamente livre de químicos e reage muito depressa, tendo uma produção muito mais elevada", diz.
Quando Muwanga esteve numa feira de produtos biológicos na Alemanha, em 2010, conseguiu ordens de compra para os agricultores ugandeses na ordem dos 200 milhões de dólares. Mas, por enquanto, o Uganda só consegue exportar 40 milhões de dólares em produtos biológicos. Ainda há muito potencial por explorar.
Uma das coisas a fazer é aumentar o número de agricultores com certificados biológicos. Atualmente, existem apenas 200 mil agricultores com um certificado internacional de exportação. A Nogamu trabalha com cerca de 1,2 milhões de agricultores biológicos. Para muitos deles, os certificados ainda estão bastante acima das suas possibilidades. "24 mil dólares", diz Muwanga.