Agricultores moçambicanos esperam "coisa boa" com nacionalização do BNI
21 de janeiro de 2013O Governo de Moçambique passou a controlar a totalidade das ações do Banco Nacional de Investimentos (BNI) em dezembro passado. Com o negócio, as participações do grupo financeiro português Caixa Geral de Depósitos e do Banco Comercial e de Investimentos no BNI passaram a estar nas mãos do Estado moçambicano.
O executivo quer transformar o BNI num banco de desenvolvimento, virado para a agricultura, indústria e financiamento de infraestruturas diversas.
Para os camponeses, que afirmam não ter nenhum financiamento para o desenvolvimento da agricultura, o banco poderá ser de sacramental importância para o setor.
"Se este banco se virar, de facto, para esta atividade, seria uma coisa boa para a nossa agricultura", afirma João Carlos Palate, coordenador executivo da União Nacional dos Camponeses do distrito de Marracuene, província de Maputo.
Melhores condições
Palate lamenta o estado da agricultura no país – "não há condições", refere. E critica o Governo por não investir muito neste setor.
"Os camponeses estão a ficar cada vez mais pobres e longe das oportunidades". O discurso do Governo gira em torno dos capitais, sublinha. "Há investimentos estrangeiros mas poucos nacionais.”
Os camponeses esperam que os investimentos deste banco incidam sobre o melhoramento das infraestruturas do setor e também na aquisição de máquinas agrícolas.
"Nós andamos a pedir tratores para trabalhar, mas o Governo importa tratores que não são para a agricultura", conta. "Esses tratores só operam dois meses porque não estão habilitados a fazer estes trabalhos. Muitos tratores que foram comprados de 2000 a esta parte quase não existem."
Mais dinheiro para a agricultura em 2013, diz executivo
Em dezembro, o ministro das Finanças moçambicano, Manuel Chang, anunciou que o orçamento para a agricultura vai superar o do ano passado, atingindo os 12,6 por cento contra 11 por cento em 2012.
Nessa percentagem, estariam incluídas a investigação agrária e veterinária, a extensão agrária ou, por exemplo, infraestruturas de apoio ao desenvolvimento da atividade agrícola, como diques, regadios ou silos.
Mas João Carlos Palate está cético. Para este responsável da União Nacional dos Camponeses, o que é dito pelo executivo não reflete a realidade no terreno:
"O que acontece no nosso país é que o discurso é sempre bonito. Mas na prática não acontece nada. O dinheiro vai ficar na cidade para ser usado por essas pessoas e não para fazer atividades agrícolas."
O Estado moçambicano terá de pagar pouco mais de 35 milhões de dólares pelas ações do Banco Nacional de Investimentos. O BNI foi constituído em março de 2011 com um capital social de 70 milhões de dólares.
Autor: Romeu da Silva (Maputo)
Edição: Guilherme Correia da Silva / António Rocha