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Aldeia guineense de Tabatô está em destaque na Berlinale

Cris,Vieira14 de fevereiro de 2013

África tem atraído as atenções, no Festival Internacional de Cinema de Berlim, a Berlinale. "A Batalha de Tabatô", do diretor luso-africano João Viana, teve sessão esgotada, na noite de quarta-feira (13.02).

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Com poesia e música, João Viana trouxe à Berlinale uma visão crítica da história política da Guiné-Bissau. O diretor luso-africano participa na 63ª edição da Berlinale, com dois filmes com o mesmo tema: "Tabatô", uma curta-metragem de 13 minutos, na mostra "Shorts", e "A Batalha de Tabatô", uma longa-metragem de 78 minutos, na mostra Forum.

A diferença entre os filmes está na forma de contar a história. A curta-metragem é quase uma "preparação para a longa", é "paixão", uma obra "poética, um bocado opaca, enquanto que a longa é mais sobre conhecimento, calma e amor", explica João Viana.

O enredo é baseado em fatos reais da vida da família Djebaté, da aldeia de Tabatô, na Guiné-Bissau. O patriarca é um ex-combatente da guerra colonial que carrega traumas desta experiência. A estes some-se os dos jovens que, recentemente, acompanharam um golpe de Estado. A trama envolve o dilema entre a guerra e paz, o passado e o futuro.
Na história cinematográfica, João Viana aborda Tabatô, uma aldeia "constituída só por músicos, no meio da guerra, com um historial absolutamente enorme. Os músicos estão ligados ao império do Mali e são eles os fundadores da agricultura, há 4500 anos, estão na base da "sunjata", que diz respeito à boa governação dos reinos, e estão na base do reggae e do jazz". "Eu estou convencido de que eles estão a inventar a paz" na Guiné-Bissau, "o terceiro país mais pobre do mundo e que vive em conflitos armadaos desde há 30 anos", detalha o diretor.

Berço da cultura moderna em África

Na longa-metragem, "A Batalha de Tabatô", João Viana desenvolve uma teoria. A partir de descobertas documentadas pelos cientistas, o diretor defende que, ao invés da Europa, é a África o berço da cultura moderna.

João Viana argumenta: "há 44 mil anos, quando o Homo sapiens pôs a sua pata peluda e começou a subir às árvores na Europa, já em África os africanos construíam setas com a ponta de osso, punham dois tipos de veneno na haste e colavam a haste ao osso com cera. Quer dizer que já eram apicultores. Não me ensinaram isto assim na escola, disseram que a cultura começou na Europa. É tudo ao contrário", defende.

Um filme sobre o lado bom

Com seus filmes, o diretor luso-africano apresenta também suas críticas. Ao mundo pede respeito e igualdade. Aos pessimistas quer mostrar que também em África, em meio aos violentos conflitos armados e políticos, existe algo de bom que precisa ser mostrado.
"A RTP Bissau quando é que vai para o ar?" questiona-se João Viana sobre as transmissões da Rádio e Televisão de Portugal (RTP), a emissora pública portuguesa, respondendo em seguida: "quando há conflitos. É como se estivessem à espera que haja conflitos. Passam esta mensagem de que só mostram o lado mau, como se aquele país estivesse todo em guerra".

Por isso, o diretor pretendeu fazer um filme "para mostrar o lado bom". João Viana sustenta: "não é só guerra, há um lado de paz. E eles [os guineenses] vão conseguir a paz. Eu estou convencido de que não são as Nações Unidas nem Portugal que vai ajudar, são eles próprios".

Esperança para as crianças

Os filmes de João Viana chegaram à Berlinale e concorrem a prêmios entre centenas de outras produções do cinema mundial.
A curta-metragem "Tabatô" está na corrida para o Urso de Ouro (que no ano passado foi para o português João Salaviza) e "A Batalha de Tabatô", a sua primeira longa-metragem, foi selecionada para a secção paralela Forum, dedicada a áreas mais experimentais. Entretanto, está em fase de pós-produção ainda um documentário, "Música para Tabatô".

Poesia, paixão e amor são as armas que João Viana apresenta nas telas de Berlim, em prol da paz na Guiné-Bissau.

Para o diretor, a competição tem um propósito maior: enviar uma mensagem de esperança às crianças. "As crianças africanas viam a barbárie e o exército e só tinham duas escolhas para o futuro. Claro que escolhem o exército. Queriam ficar do lado dos bons, não queriam ficar do lado dos maus", observa João Viana.

Por isso, o diretor luso-africano quis, através da sua obra, "mostrar às crianças que há mais hipóteses para o futuro. Não é preciso que o futuro sejam armas para combater a barbárie. Há muito mais soluções", remata.

Autora: Cristiane Vieira Teixeira (Berlim)
Edição: Glória Sousa / António Rocha