Alemanha e Turquia fazem disputa acirrada por Euro2024
26 de setembro de 2018Às vésperas do anúncio do país anfitrião do Euro2024, esta quinta-feira (27.09), os nervos estão à flor da pele. A Alemanha e a Turquia estão numa disputa acirrada para se tornar a cidade-sede do Campeonato Europeu de Futebol. O resultado será conhecido na Casa do Futebol Europeu, em Nyon, na Suíça.
O clima é de nervosismo, ansiedade e agressão. De um lado, a Alemanha, sedenta por dar um ímpeto ao futebol nacional depois da derrota precoce na Copa do Mundo. Do outro, a Turquia, e as tentativas ousadas do presidente Recep Tayyip Erdogan para o país sediar o Euro2024.
Em relatório divulgado na última sexta-feira (21.09), a UEFA foi clara: a Alemanha seria a melhor escolha. A Federação Alemã de Futebol (DFB) não perdeu tempo e em menos de uma hora elogiou em seu site a avaliação da organização, que destaca a visão criativa e profissional do país para o evento.
Philip Lahm, ex-jogador da seleção alemã e embaixador da candidatura da Alemanha, diz que o relatório da UEFA honra os pontos fortes do país, como a transparência e a sustentabilidade. "Recordo-me o que 2006 significou ao país e a cada indivíduo por termos sediado a Copa do Mundo. E queremos permitir isso às próximas gerações. Nós podemos mostrar o quão abertos nós somos", afirma.
Novo ímpeto ao futebol alemão
A candidatura da Alemanha é a maior promessa desportiva do país. Sediar o Euro2024 é visto como uma oportunidade para novos investimentos e para despertar um novo sentimento futebolístico. O país recebeu o campeonato europeu uma única vez em 1988 na antiga Alemanha Ocidental.
A Federação Alemã de Futebol argumenta que o país tem a infraestrutura e o número de estádios suficientes para receber o evento – dez no total. O presidente da entidade, Reinhard Grindel, defende que o Euro2024 seja sediado num país estável política e economicamente. "Nós temos os estádios, a infraestrutura de transportes, acomodações e as grandes torcidas. Poderíamos começar o Euro amanhã", argumenta.
A Turquia está a oferecer todos os estádios de forma gratuita à UEFA. Já a Alemanha exige um pagamento de aluguel para o uso dos estádios. Segundo o relatório da organização futebolística, os valores são razoáveis.
Prioridade máxima
A candidatura apresentada pela Associação Turca de Futebol é uma prioridade máxima do Presidente Recep Tayyip Erdogan. Essa é a terceira vez que o país tenta sediar o evento. Em 2008, apresentou-se juntamente com a Grécia, em 2012 e 2016 sozinho, e em 2020 retirou a candidatura quando ficou claro que a competição seria recebida por vários países europeus. Nos bastidores, diz-se que Erdogan está a se reunir com chefes de Estado dos países que têm membros no comité executivo da UEFA para convencê-los a votar na Turquia.
O presidente do FC Bayern de Munique, Uli Hoeneß, critica a candidatura turca. "Não posso imaginar que neste momento turbulento, quando a Turquia está mergulhada no caos, que se tenha a coragem de oferecer um campeonato europeu para a Turquia. Qualquer coisa que não seja um contrato com a Alemanha seria uma grande surpresa", sublinha.
Apesar de o regulamento da UEFA não permitir ataques diretos aos concorrentes, a Federação Alemã de Futebol pediu à renomada agência de comunicação Burson-Marsteller que as "fraquezas da candidatura turca" sejam mencionadas num documento estratégico estritamente confidencial. Reinhard Grindel diz, no entanto, que desconhece o texto.
Um dos pontos fracos da candidatura alemã são as denúncias recentes contra dirigentes da Federação Alemã de Futebol de evasão fiscal durante a Copa do Mundo de 2006. Já a Turquia pode levar desvantagem devido às medidas autocráticas do Presidente Erdogan. Entre os 17 membros do comité executivo da UEFA que tomarão a decisão, mais da metade é de países da Europa Ocidental e, portanto, mais crítica ao regime turco.
A UEFA já alertou que o respeito pelos direitos humanos deve ser um critério fundamental no processo de escolha. Apesar disso, a entidade ressalta que a decisão do comité deve se focar no desporto e não em fatores políticos e económicos.
Lobby
A abertura de temporada do campeonato europeu em Mônaco, no final de agosto, contou com a presença dos 17 membros do comité executivo da UEFA que escolherá entre Alemanha e Turquia. A cerimónia de premiação do "Melhor Jogador do Mundo" foi uma chance dos comités representantes dos dois países para fazer lobby direto com o júri.
A Federação Alemã de Futebol enviou uma carta promovendo os pontos fortes da candidatura do país a cada membro do comité. A Turquia convidou pessoalmente todos os membros para uma "Noite de Gala do Futebol Turco", violando o Artigo 24 das Regras de Aplicação da entidade. A UEFA, por sua vez, não tomou nenhuma providência.
"O Governo federal alemão nos ajudou muito. Nós obtivemos garantias governamentais como nunca antes, também com vistas ao nosso concorrente que sempre concorda com o que a UEFA diz. Nós não podemos agir assim. Mas essa é a diferença entre a Alemanha e a Turquia", diz Reinhard Grindel.
No relatório, a UEFA avalia que existe um "risco" em relação à expansão do Estádio Olímpico Atatürk, em Istambul. Além disso, os investimentos planejados poderiam estar "sob pressão" devido aos problemas da economia turca. E há falta de um "plano de ação de direitos humanos".
Apesar de a Alemanha ser favorita, os 17 membros do comité não são obrigados a seguir a avaliação do relatório da UEFA. Até a divulgação do resultado, o nervosismo permanece.