Alemanha espera por sentença contra extremistas de direita
10 de julho de 2018A primeira vítima da série de assassinatos morreu em setembro de 2000. Oito homens com raízes turcas e um de origem grega. Todos foram baleados com a mesma arma.
Os investigadores presumiram que os autores teriam envolvimento com a cena das drogas e suspeitaram também de membros das famílias das vítimas. Uma motivação racista foi rapidamente excluída.
Ninguém confessou os crimes que foram realizados por toda a Alemanha.
Depois, a policial Michèle Kiesewetter foi morta a tiros em Heilbronn, em abril de 2007, mas ninguém viu qualquer conexão com os outros assassinatos.
Quatro anos e meio mais tarde, depois de uma tentativa fracassada de assalto a banco em Eisenach, em novembro de 2011, os corpos dos supostos autores dos crimes, Uwe Böhnhardt e Uwe Mundlos foram encontrados numa autocaravana incendiada.
Aparentemente, eles tiraram suas próprias vidas para escapar da prisão.
Grupo revela-se 11 anos depois
Após a morte de ambos, Beate Zschäpe, que teria entrado para o grupo terrorista de extrema direita NSU, em janeiro de 1998, juntamente com Böhnhardt e Mundlos, colocou vídeos do grupo em uma caixa de correio e apresentou-se à polícia. Foi assim que se soube da existência do NSU.
A Alemanha estava em choque. Como seria possível que o NSU tivesse conseguido arrastar sua mortal trilha de sangue por todo o país, durante tanto tempo, sem ser descoberto?
Além dos dez assassinatos, os atos criminosos do NSU incluem dois atentados a bomba em Colônia, com mais de 20 feridos, e 15 roubos.
Mais de 430 dias de julgamento
Beate Zschäpe e quatro acusados de apoiar o NSU estão a ser julgados desde 6 de maio de 2013 por um Tribunal de Munique.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) está convencida da culpa dela e exige uma sentença de prisão perpétua na constatação da gravidade especial da culpa. Para os quatro alegados apoiantes, a acusação solicitou entre três e doze anos de prisão.
Independentemente do veredito que será proferido para a ré principal, a investigação dos crimes do NSU falhou do ponto de vista dos sobreviventes e dos parentes das vítimas fatais.
Eles confiaram na promessa da chanceler alemã, Angela Merkel, em fevereiro de 2012, durante uma cerimónia em memória das vítimas da NSU.
"Como Chanceler Federal da República Federal da Alemanha, prometo a vocês: faremos tudo para esclarecer os assassinatos, descobrir os cúmplices e apoiantes e penalizar legalmente todos os autores," declarou Merkel na época.
Dúvidas por esclarecer
Muitas perguntas permaneceram sem resposta, diz Antonia von der Behrens. A advogada de Berlim representa um filho de Mehmet Kubaşik, assassinado em Dortmund em 2006.
Von der Behrens está convencida de que o NSU tinha muito mais apoiantes do que os acusados em Munique - também e especialmente na cena do crime. Segundo a advogada, as autoridades de proteção da Constituição tiveram diversos espiões infiltrados no ambiente do grupo terrorista, por muitos anos. No processo, eles só foram autorizados a testemunhar até certo ponto, ou nem sequer autorizados a depor.
"O papel das autoridades de proteção da Constituição não foi realmente esclarecido. E não se viu a vontade política de efetivamente fazer-se isso," avalia von dr Behrens.
Este esclarecimento, diz a advogada de acusação von der Behrens, "muito claramente falhou", referindo-se ao julgamento criminal em Munique, mas também ao aspecto político.
A falha do Estado não teve consequências pessoais. Apenas o então presidente de autoridade de proteção constitucional, Heinz Fromm, assumiu a responsabilidade e renunciou em 2012 - em resposta à anterior destruição de arquivos com a referência ao NSU, logo após a descoberta do grupo terrorista.
Muitas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) também ainda têm muitas dúvidas sobre a NSU. No Bundestag, o Parlamento alemão, houve até mesmo duas CPIs, a última delas liderada pelo então parlamentar democrata-cristão Clemens Binninger.
"A NSU foi realmente apenas um trio? E neste trio, apenas os dois homens cometeram os crimes sem deixar rastos em parte alguma?" questiona Binninger.
Ele também gostaria de saber quem deu o "impulso decisivo" para a seleção das cenas dos crimes e das vítimas.
Crimes por toda a Alemanha
Os assassinatos foram perpetrados em toda a Alemanha: Rostock e Hamburgo no norte, Dortmund no oeste, Kassel no centro e Nuremberg, Munique e Heilbronn no sul do país.
A investigação criminal do NSU poderia continuar após o julgamento em Munique. O Procurador-geral da República conduz investigações contra nove outros suspeitos, há anos. No entanto, teme-se que ninguém mais seja acusado, afirma Martina Renner, especialista em NSU e deputada federal do partido "A Esquerda".
"Isso seria um sinal fatal para a cena neo-nazista militante, porque irradiaria a mensagem: você pode apoiar uma rede extremista de direita assassina e nada acontece," conclui.
Antes de sua eleição para o Bundestag, Martina Renner foi presidente da CPI sobre a NSU no parlamento estadual da Turíngia.
Deste estado vêm Zschäpe, Böhnhardt, Mundlos e muitos extremistas de direita do grupo terrorista.
Segundo a deputada federal, que acompanhou de perto o processo do NSU, os arquivos da autoridade de proteção da Constituição permanecem trancados e alguns foram até mesmo destruídos. Ela diz ter dúvidas sobre o real desejo de esclarecimento por parte dos responsáveis políticos.