Alemães angariam fundos para a família de angolano assassinado
21 de julho de 2011Amadeu António foi uma de muitas vítimas de uma onda de racismo que rebentou, sobretudo na extinta República Democrática da Alemanha (RDA), depois da reunificação alemã. As vítimas destes ataques eram oriundas de Moçambique, do Vietname, de Cuba e de Angola, tratando-se de pessoas que tinham vindo para a Alemanha no quadro de programas de cooperação entre os países então comunistas.
Para que a morte de Amadeu António e outros não fosse esquecida, e para precaver novos crimes, várias personalidades da vida cultural e política alemã criaram a "Fundação Amadeu António", que, desde então, combate o racismo e promove a convivência pacífica entre os povos.
Cidadãos lutam pela memória de Amadeu António
Agora, vinte anos após a morte de Amadeu António, um grupo de cidadãos da região onde tudo aconteceu iniciou uma campanha para a angariação de fundos. O objetivo é apoiar a família do falecido Amadeu António que vive em Luanda com algumas dificuldades.
Dieter Gadischke trabalha para uma instituição da igreja evangélica em Barnim, a poucos quilómetros do local onde foi morto Amadeu António. Gadischke lembra-se que, na altura, ficou traumatizado com esta morte violenta. A vítima tinha apenas vinte anos e foi atacada por um grupo de cerca de 50 cidadãos alemães, apenas porque era africano.
O caso deu muito que falar, sobretudo porque os processos contra os autores das agressões físicas que levaram à morte do jovem angolano resultaram apenas em sentenças leves dos quatro jovens, condenados por agressão e não por assassinato.
Autoridades alemãs não cumpriram promessas
O corpo foi enviado para Angola imediatamente depois do assassinato, lembra Dieter Gadischke: "Há pouco tempo viemos a saber que não existe qualquer lápide de pedra ou mármore no cemitério onde Amadeu António foi enterrado. Quando o corpo foi entregue à família em Angola não lhe foi dada qualquer explicação pelas autoridades alemãs”.
Isto apesar de ter sido estabelecido pelas autoridades alemãs que havia contas a prestar à família, que devia ainda receber apoio para o enterro e a compra de uma lápide. “Promessas que nunca foram cumpridas”, diz Gadischke, e acrescenta: “Quando o soubemos, pensámos que mais vale tarde do que nunca e decidimos iniciar uma campanha de apoio, para que os familiares de Amadeu António vejam que na Alemanha ainda há gente que não se esqueceu e sente uma certa compaixão. Foi então que nós, como grupo da sociedade civil, decidimos angariar fundos para apoiar a família de Amadeu António e lhe mostrar a nossa solidariedade”.
Medidas para precaver futuros ataques racistas
Na altura da morte de Amadeu António, a sua companheira alemã estava grávida. Hoje o seu filho tem vinte anos. A iniciativa de Dieter Gadischke, a que aderiram várias dezenas de cidadãos da região situada a cerca de 50 quilómetros de Berlim, muito se esforça por evitar que o caso caia no esquecimento. Uma tarefa nada fácil, salienta Dieter Gadischke: "Em 2006, 16 anos depois da morte de Amadeu António, verificámos que muitos dos jovens da nossa região, que tinham nascido depois dessa tragédia, pouco ou nada sabiam sobre o caso. As conversas que tivemos nas escolas confirmaram que é muito importante informar os jovens sobre o fenómeno do racismo, para que acontecimentos como o de dezembro de 1990 não se repitam”. Para isso foram criados espaços para seminários sobre as vítimas do racismo na Alemanha. O objetivo é fornecer informação aos jovens e dar respostas a todas as questões em aberto, explica Gadischke.
Para além de tentar angariar fundos para a família em Angola, o grupo também exige às autoridades alemãs que financiem a construção de um túmulo em pedra no cemitério de Santa Ana, em Luanda, local onde se encontra a campa de Amadeu António.
Recorde-se que a família de Amadeu António vive em condições difíceis, no bairro de Rocha Pinto, perto do aeroporto de Luanda. Helena Afonso, mãe do falecido, disse à Deutsche Welle: “Eu não tenho dinheiro para a campa. E não posso ir ao cemitério, porque quando lá vou, só choro”.
Autor: António Cascais
Edição: Cristina Krippahl / António Rocha