Ameaça extremista continua a crescer em África
4 de julho de 2018Na semana passada, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Marrocos, Nasser Bourita, fez soar o alarme quando afirmou que havia cerca de 10 mil combatentes jihadistas no continente africano.
"A Al-Qaeda tem mais de 6.600 combatentes em toda a África. O Daesh, ou Estado Islâmico, tem mais de 3.500 combatentes nas suas fileiras. Muitos são ex-combatentes do Estado Islâmico na Síria e no Iraque que regressaram à região. É por isso que falo num total de 10.000 combatentes em toda a África. E não estou a contar com aqueles que se juntaram à Al-Shabab ou ao Boko Haram", explicou o político em entrevista à DW.
Para o ministro Nasser Bourita, é essencial estabelecer-se uma estratégia decisiva contra o terrorismo islâmico que continua a fazer milhares de mortos todos os anos em várias regiões de África. Somália, Mali, Nigéria, Quénia ou República Democrática do Congo (RDC) estão entre os países mais afetados.
Soluções estratégicas
"Existem soluções estratégicas em África, há consciência do problema e há cooperação no combate ao terrorismo. Marrocos desenvolveu uma estratégia contra o terrorismo com vários vizinhos africanos", destaca Nasser Bourita.
O chefe da diplomacia marroquina lembra ainda que existem diferentes abordagens: "soluções militares, também existem soluções propagandísticas e tentamos reconstruir as áreas destruídas pelo Estado Islâmico. Estas iniciativas deverão ser alargadas a outros países africanos e a cooperação com, por exemplo, o grupo G5 do Sahel deveria ser reforçada."
O G5 foi fundado em 2014 por alguns países da região do Sahel - Mauritânia, Mali, Níger, Burkina Faso e Chade - e pretende ser uma resposta à crescente insegurança e ameaça do terrorismo.
Terrorismo ganha novas fronteiras
Mas voltando aos 10 mil combatentes terroristas: será este número certo? O jornalista e escritor Marc Engelhardt tem dúvidas. "Não há registo profissional dos terroristas. Segundo as minhas pesquisas, o núcleo duro dos combatentes é de apenas algumas centenas de pessoas", diz.
"É verdadeiramente assustador que um núcleo tão pequeno de pessoas seja capaz de ameaçar um país gigante como o Mali. Eu diria menos de 10.000, embora o seu número de apoiantes, num sentido amplo, seja provavelmente maior do que isso", explica o jornalista.
Marc Engelhardt frisa que o terrorismo está a ganhar novas fronteiras e alerta para o facto da Guerra Santa já não ser uma "expressão estrangeira" em países até agora poupados desse perigo, como Moçambique, Burkina Faso ou Costa do Marfim.
Enquanto isso, a violência islâmica continua a aumentar na região do Sahel, ofuscando até mesmo a última cimeira da União Africana (UA) que terminou na segunda-feira (02.07), na capital mauritana. No Mali, quatro pessoas morreram e 20 ficaram feridas, incluindo quatro soldados franceses, num ataque suicida.
Embora a UA tenha prometido eliminar o terrorismo islâmico no continente até 2020, o objetivo parece cada vez mais uma miragem, comenta Pierre Bouyoya, representante da União Africana no Mali. "Encontrar a paz é uma tarefa gigantesca e não pode ser cumprida num dia, num ano ou numa década. África é um continente jovem e ainda está à procura de estabilidade", conclui.