Covid-19: Amnistia alerta para fome e violência em África
17 de abril de 2020A pandemia de Covid-19 veio evidenciar ainda mais as marcas da desigualdade social e do desemprego no mundo. Nos países africanos, onde há milhares de pessoas em situação de pobreza, as restrições de circulação e estado de emergência causaram ainda mais fome e medo.
Por isso, a Amnistia Internacional (AI) pediu aos governos da África Austral para desenvolverem ações de combate à fome na região, além de medidas sociais que protejam e garantam o acesso da população à alimentação.
Combate à fome
Segundo o diretor regional da AI para África Oriental e Austral, Deprose Muchena, as pessoas não vão conseguir manter-se em confinamento por falta de condições financeiras para manter reservas alimentares, o que se pode tornar uma ameaça à vida.
"Sem o apoio dos governos, o confinamento pode transformar-se um assunto de vida ou de morte", afirmou o diretor da AI em comunicado.
Para o diretor regional, é preciso combinar ações e medidas que visam a contenção da doença nos países, mas também pensar no bem-estar social das pessoas em situação de pobreza.
"As medidas em curso na região, que pretendem diminuir as consequências catastróficas da covid-19, devem ser acompanhadas com medidas de proteção social para aqueles que vivem na pobreza e enfrentam o desemprego, de modo a mitigar o impacto desde duplo risco do isolamento e da fome", finalizou Deprose Muchena.
Violência crescente
No mesmo comunicado, a Organização Não-Governamental (ONG) reitera as denúncias de violência policial em Angola e Moçambique. A maioria das pessoas que foram alvo das ações policiais violentas são trabalhadores da economia informal, que trabalham para conseguir suprir as suas necessidades básicas de subsistência.
Pessoas que circulavam pelas ruas para irem ao mercado ou a centros de saúde também sofreram com a violência policial desmedida.
Segundo o diretor regional da AI, as situações expostas pela estação de televisão moçambicana STV mostram a humilhação e o desrespeito pela população. "As forças de segurança estão a usar força desproporcional ao lidar com membros do público, incluindo através de agressões e outras formas de humilhação pública", ressaltou o diretor.
Para Deprose Muchena, as ordens de cumprimento da lei decretadas estão a ultrapassar os limites e a atentar com violência contra a população.
"Sete homens foram detidos enquanto se deslocavam para comprar comida num mercado em Cabinda em 4 de abril. Os homens foram libertados de forma gradual desde 5 de abril", acrescenta o diretor regional da AI.
Avanços da Covid-19
A pandemia da Covid-19 alastra-se pelo continente africano, com o registo diário de novos casos da doença. Segundo os últimos dados divulgados pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) na União africana, em África já há 18.333 infetados e 962 mortes. O número de pacientes recuperados chegou a 4.352 pessoas.
Nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), até ao momento há 159 infetados e 3 mortes registadas. Nas últimas horas, o arquipélago de Cabo Verde se tornou o país mais afetado, com novas infeções locais, subiu para o número de 55 pessoas infetadas pelo novo coronavírus e uma morte registada.
Na Guiné-Bissau o número de casos continua a aumentar, com a confirmação de 50 pessoas infetadas por transmissão local e nenhuma morte registada.
Mantendo-se estáveis na propagação do vírus estão Moçambique, com 31 pessoas confirmadas com Covid-19 e sem casos de mortes registados; Angola com 19 casos confirmados e duas mortes registadas; e São Tomé e Princípe, com quatro casos de infeções registados.
No mundo, a Covid-19 já infetou 2.159.450 pessoas e levou à morte 145.568 infetados. Com 676.676 casos, os EUA continuam a ser o país com o maior número de infeções, além de 34.784 mortes. Em África, o país com mais infetados é a África do Sul, com 2.605 casos da doença e 48 mortes registadas.
Na Alemanha, o ministro da Saúde, Jens Spahn, afirmou esta sexta-feira (17.04) que a pandemia de Covid-19 está atualmente "sob controlo" no país e que o número de contágios diminuiu. A Alemanha é o quarto país com mais casos do mundo, registando, segundo os dados divulgados hoje, 133.830 infetados, um aumento de 3.380 em relação ao dia anterior.