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Amnistia Internacional denuncia clima de medo na Costa do Marfim

28 de julho de 2011

O Conselho de Segurança da ONU renovou por um ano o mandato da missão onusiana na Costa do Marfim (ONUCI), enquanto a Amnistia Internacional denuncia um clima de terror que se vive no país.

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A Missão da ONU na Costa do Marfim (ONUCI) vai ficar no país mais um ano, decidiu o Conselho de SegurançaFoto: picture-alliance/landov

As Nações Unidas decidiram na quarta feira (27.07) renovar, por um ano, o mandato da sua missão na Costa do Marfim e um dia depois a Amnistia Internacional (AI) denunciou num comunicado um clima de terror que se vive naquele país da África Ocidental que saiu recentemente de uma grave situação de violência.

Para a organização de defesa dos direitos do Homem, cerca de 500 mil costa-marfinenses deslocados na sequência das violências pós-eleitorais, estão impedidos de regressar aos seus lares devido a um clima de medo que continua a reinar no país.

AI responsabiliza forças governamentais e caçadores tradicionais pelas violências

No documento divulgado nesta quinta feira (28.07) a Amnistia Internacional responsabiliza as forças de segurança governamentais e uma milícia apoiada pelo Estado e composta por caçadores tradicionais, os chamados "Dozos", nessas violências que elegeram como alvo alguns grupos étnicos.

A AI escreve no relatório que as forças de segurança e os "Dozos" terão escolhido nomeadamente o grupo étnico Guérés, principalmente os jovens, considerados como sendo membros das milícias favoráveis a Laurent Gbagbo.

Unruhen in Abidjan
A pacificação da Costa do Marfim continua a ser difícil para as novas autoridades. Na foto, Abidjan, a capital, durante as violências de Dezembro de 2010Foto: picture alliance / dpa

Segundo Salvator Sagues, encarregue da Costa do Marfim na AI, é este clima que impede o regresso das pessoas às suas casas e que uma tal situação não pode ser tolerada: “No Oeste do país existe um reino do terror instalado nomeadamente pelas milícias "Dozos", que controlam a população, as estradas e fazem patrulhas à noite”.

Face a este quadro, Salvador Sagues afirmou que a sua organização lançou um apelo às autoridades de Abidjan, nomeadamente “ ao Presidente Ouattara para que crie uma cadeia de comando por forma desmantelar as milícias que, apesar do fim do conflito, continuam a propagar o medo no seio das populações”. Para a AI, um exército imparcial deve ser constituído, porque “só assim os deslocados poderão regressar às suas casas”, conclui a organização.

"Queremos regressar aos nossos lares"

Esses refugiados de que fala a AI têm um único desejo: regressar às suas casas, como confiou um deles numa reportagem à DW:

“Têm que ser desarmados aqueles que estão na região para que possamos regressar em paz às nossas casas e assim podermos realizar as nossas atividades que estão paralisadas". E um outro acrescentou: “podemos regressar, mas as condições têm que estar reunidas para a nossa partida. Aqui não estamos felizes... Não há trabalho e não temos alimentos”.

Elfenbeinküste Alassane Ouattara
Alassane Ouattara, Presidente da Costa do MarfimFoto: AP

Recorde-se que o escrutínio de Novembro de 2010 foi seguido de uma guerra civil, desencadeada pela recusa do então presidente cessante Laurent Gbagbo em entregar o poder ao seu rival Alassane Ouattara, cuja a vitória eleitoral foi reconhecida pela comunidade internacional. Gbagbo, foi capturado em Abril pelas forças de Alassane Ouattara.

A organização de defesa dos direitos do Homem destaca ainda no documento divulgado esta quinta-feira que violações graves dos direitos humanos, incluindo crimes contra a humanidade e crimes de guerra, foram cometidos tanto pelas forças leais a Alassane Ouattara como pelas fiéis a Laurent Gbagbo.

Mas, as graves consequêcias desta recente vaga de insegurança e de deslocações das populações devem ser rapidamente solucionadas, exige a Amnistia Internacional, porque caso contrário acrescenta a organização, “poderão estar em perigo os esforços de reconciliação levados a cabo num país destruído por uma década de conflitos étnicos e violentos”.

Autor: Bob Barry / António Rocha

Edição : Nádia Issufo