Aumentam acusações de feitiçaria contra crianças em Cabinda
5 de maio de 2022As acusações de feitiçaria contra crianças e adolescentes têm emergido na África Central, especialmente na República Democrática do Congo, nos últimos quinze anos. Em Angola, este fenómeno vai ganhando espaço, sobretudo no seio do grupo étnico Bakongo.
Não há quaisquer dados científicos que comprovem esta crença.
O Orfanato Lourenço Amadeu, na comuna de Malembo, em Cabinda, foi cofundado por uma entidade religiosa com a missão de educar crianças em situação de vulnerabilidade.
O padre Benício Cumba, responsável do orfanato, explica que muitas crianças que lá chegam são acusadas de prática de feitiçaria, sem provas.
"Não tenho condições de afirmar se essas crianças têm espírito maligno ou não, mas uma coisa é certa, essas crianças vêm para cá, são retiradas do convívio familiar. E quando uma criança é obrigada a abandonar o lar familiar, acarreta consequências gravíssimas", lamenta.
Abandono e famílias vulneráveis
Vários pais abandonam os próprios filhos por alegados atos de bruxaria, o que leva a famílias fragmentadas e em situação de vulnerabilidade.
A responsável de um centro de acolhimento, que falou com à DW sob anonimato, denuncia que muitos pais ou encarregados de educação visitam as chamadas casas de oração por acreditarem que os filhos praticam feitiçaria. Depois disso, muitas crianças são abandonadas à própria sorte.
"Já recebemos várias crianças nesta situação. O caso mais recente foi de duas meninas. Os pais diziam que eram feiticeiras e essas igrejas colocaram-nas em jejum durante 15 dias", conta.
Já o pastor Carlos Lumba acredita que o número crescente de acusações de feitiçaria em Cabinda resulta da proliferação de seitas religiosas na província. Como consequência, muitas crianças são discriminadas.
"As senhoras que têm pequenas casas de oração acabam sempre por afirmar que as crianças são feiticeiras e, infelizmente, os pais acabam por embarcar nisso".
O Instituto Nacional da Criança (INAC) de Angola, em parceria com a UNICEF e outras organizações não governamentais, começam a produzir estudos sobre a questão e formular ações para prevenção e contenção destes casos.