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Cultura

Angola Cinemas - Uma revolução através de imagens

Meyre Brito
27 de setembro de 2017

Com nome provocador, a exposição "Angola Cinemas, uma ficção de liberdade" está em Colónia, na Alemanha, e revela uma arquitetura desconhecida por muitos.

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Miguel Hurst, curador da mostra e editor do livro, e Christiane Schulte, do Instituto Goethe, na abertura da exposiçãoFoto: DW/M. Brito

A cidade de Colónia, no oeste da Alemanha, acolhe o Festival de Cinema de África, que já está na sua 15ª edição. Em paralelo à mostra de filmes, as fotos de Walter Fernandes podem ser conferidas na Câmara da Indústria e Comércio de Colónia (IHK) até ao dia 3 de novembro.

Com um nome bastante provocador  - "Uma ficção de liberdade" - os autores do livro de fotografia se referiam, num primeiro momento, à sétima arte. Mas à época em que esses cinemas foram construídos, dos anos 30 até 1975, a liberdade em Angola estava longe de ser uma realidade.

Quando começou o processo de independência em África, nomeadamente nos anos 1950, Portugal recusou-se a legitimar essa soberania. Preferiu apostar na construção de cidades que pudessem incluir colonos e indígenas. Nas cidades, as salas de cinemas foram construídas com o objetivo de tentar mostrar ao mundo que não são se tratavam de salas de territórios coloniais.

A arquitetura dessas salas pode ser vista nas fotos expostas ao longo de cinco andares do prédio da IHK (que curiosamente tem o que na Alemanha se conhece como "Paternoster", um elevador que não tem portas e nunca para).

Subindo até ao quinto andar, pode-se ver a foto do Cine Estúdio do Namibe, inspirado na arquitetura do brasileiro Oscar Niemeyer. O edifício marca uma mudança no estilo das construções, que logo no início exibiam características arquitetónicas do regime do Estado Novo português de António Oliveira Salazar.

A partir do Modernismo, as construções adquiriram um ar mais leve, unindo luz e ar, até chegarem às cine-esplanadas dos anos 60 e 70, projetadas de forma futurista com espaços abertos e arejados. 

Mais do que "blood diamonds"

Miguel Hurst, curador da exposição e um dos editores do livro, esteve presente na abertura da exposição. Está satisfeito com a repercussão da exposição que já esteve em várias cidades. "Tudo começou em Luanda, depois vieram as cidades de Namibe, Benguela, Durban, Rio de Janeiro, Lisboa, Munique e, agora, Colónia", descreve Miguel Hurst.

Angola Cinemas - Uma ficção de liberdade

As fotografias são uma maneira inovadora de mostrar Angola ao mundo. "Isso para mim é uma revolução. Os arquitetos não foram angolanos, mas o património cultural é nosso. E isso para mim é fazer uma revolução: mostrar que Angola é muito mais do que corrupção, mais do que "blood diamonds", afirmou Miguel Hurst.

No entanto, apesar de algumas salas terem sido restauradas, muitas estão degradadas e vão ser demolidas. A solução para o curador da mostra é maior investimento financeiro por parte do Estado angolano para divulgar mais o património angolano.

"Não ter água e não ter luz não pode ser razão para que não haja uma aposta num outro lado, o lado cultural. Um país tampouco pode matar-se culturalmente para dar água e luz a toda gente. As coisas têm de acontecer em paralelo; não pode só ser água e luz", comentou Miguel Hurst. 

Arte e arquitetura para além dos estereótipos

"Existe em Angola uma cena artística e cultural bastante viva e cada vez mais internacional, muitos jovens estão interessados em expressar-se através da arte. A capital, Luanda, é um lugar onde a vida cultural ferve, onde muitos eventos acontecem e as pessoas estão experimentando novas formas de fazer arte", afirmou Christiane Schulte, do Instituto Goethe, de língua alemã, que apoiou a publicação do livro "Uma ficção de liberdade".

Segundo Christiane Schulte, Angola continua a ser desconhecida na Alemanha. E, conclui Schulte, quando se fala no país, só se vêm os estereótipos: riquezas naturais, corrupção, guerra civil.

Schulte salientou para a necessidade de divulgar o património cultural angolano. "Outra razão para publicarmos este livro é que se trata de um enorme património cultural. Boa parte dele está ameaçado e outra parte já foi destruído. Esperamos que a esta publicação ajude a fazer com que este património seja preservado", concluiu a responsável do Instituto Goethe.