Angola: Isaías Samakuva pede ao PR para dialogar com UNITA
26 de outubro de 2020Isaías Samakuva, ex-líder da UNITA, maior partido da oposição em Angola, falava à imprensa no final de uma audiência concedida pelo chefe de Estado angolano, João Lourenço.
O encontro foi dominado pelos últimos acontecimentos de sábado (24-10), dia em que a polícia frustrou a tentativa de manifestação de um grupo de jovens da sociedade civil e que contou com o apoio de dirigentes da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
"Mais uma vez nesses casos, as portas para se dialogar deviam estar abertas. Pedi ao Presidente da República que procurasse contactar a direção da UNITA diretamente, é importante que se esclareçam algumas situações", disse Isaías Samakuva.
O antigo líder da segunda força política de Angola pediu também que "aqueles que estão na cadeia sejam libertos".
Na sequência do confronto entre os manifestantes e a polícia, foram detidas 103 pessoas, incluindo dirigentes da UNITA, que esta segunda-feira (26.10) foram presentes a julgamento no Tribunal Provincial de Luanda, Dona Ana Joaquina, acusados pelo Governo de terem cometido atos de arruaça e desobediência.
Libertação "vai contribuir para uma maior abertura de diálogo"
Segundo o secretário de Estado do Ministério do Interior para o Asseguramento Técnico, Salvador Rodrigues, a manifestação resultou, além das detenções, em seis polícias feridos e a destruição de vários meios da polícia. O governante lamentou igualmente os atos de fogo-posto dos manifestantes.
Para Isaías Samakuva, a libertação dos detidos "vai contribuir para uma maior abertura de diálogo".
O político reforçou que só o diálogo pode trazer "a compreensão entre os angolanos, que pode ajudar a ultrapassar várias situações".
"Que vão até ao ponto de, diria, evitar que aquelas questões que parecem ser polémicas, como a questão das autarquias, por exemplo, sejam entendidas por toda a gente. Todas as pessoas saibam de facto o que é que se pretende fazer", considerou.
Autárquicas também na origem da manifestação
A manifestação tinha como objetivo reclamar melhores condições de vida dos cidadãos e exigir que o Presidente angolano anuncie uma data para as primeiras eleições autárquicas em Angola, que estavam previstas para este ano, mas foram adiadas por causa da pandemia de covid-19 e a não conclusão do pacote legislativo autárquico.
Na sexta-feira (23.10), devido ao aumento do número de casos de Covid-19 no país, foi decretado novo estado de calamidade pública, com medidas de combate e prevenção mais restritivas, nomeadamente a proibição de ajuntamentos na rua de mais de cinco pessoas.
Com este argumento, as autoridades tentaram dissuadir os manifestantes da sua intenção, que já vinha sendo anunciada antes do decreto presidencial, o que resultou num confronto entre manifestantes e as forças da ordem, marcado pelo arremesso de pedras, montagem de barricadas nas estradas com contentores e pneus a arder, pelos primeiros, e o uso de gás lacrimogénio e disparos para o ar, apoiados por brigadas caninas e cavalaria, pelos segundos.