Angola: Filho de Carlos São Vicente é constituído arguido
16 de janeiro de 2021O filho do empresário luso-angolano Carlos São Vicente, Ivo São Vicente, foi constituído arguido. A informação foi avançada por Irene Neto, filha do primeiro Presidente de Angola, Agostinho Neto, e esposa do empresário Carlos São Vicente, em entrevista à agência de notícias Lusa.
"Não sei, mandaram uma notificação a dizer para apresentar-se [em Angola], porque foi constituído arguido. A data [da carta] acho que é de 30 ou 31 de dezembro, mas só nos chegou agora", sublinhou ao dizer que não sabe qual é acusação contra o seu filho.
Ivo São Vicente, que vive em Lisboa, não pretende se apresentar à justiça, "a não ser que o venham buscar", afirmou a médica angolana.
A notificação, segundo Irene Neto, "é muito lacónica, apenas diz que ele tem de se apresentar no dia seguinte a ter recebido a carta. Obviamente que não dava para se apresentar em Luanda. Até porque nós não temos meios para pagar bilhete de passagem para Angola e, muito menos, local onde residir [no país]. Porque a nossa habitação também foi apreendida [pela justiça angolana]. Portanto, nós não temos para onde voltar. Praticamente somos exilados em Portugal", explicou.
Irene Neto levanta duas hipóteses na origem da notificação do filho. Uma delas é o facto de este ser gestor de empresas do pai ou que integravam o grupo por ele criado. A outra, para si mais plausível, tem a ver com o facto de Ivo São Vicente "ter estado a dar entrevistas". "Como um jovem que é, defende o pai com alguma veemência e poderá ter dito algo que não tenha sido muito bem aceite. Portanto, isto pode ser considerado como uma forma de represália, de pressão sobre o pai, que está lá preso e fica sabendo que o filho foi constituído arguido", afirmou.
Contas congeladas
A família de Carlos São Vicente tem algumas das contas congeladas pela justiça, apesar do recurso que interpôs no ano passado para que fosse levantada a medida. Segundo o despacho que determinou a prisão preventiva do empresário Carlos São Vicente, este teria levado a cabo "um esquema ilegal" que lesou a petrolífera estatal Sonangol em mais de 900 milhões de dólares (cerca de 760 milhões de euros).
O empresário angolano que entre 2000 a 2016 desempenhou, em simultâneo, as funções de diretor de gestão de riscos da Sonangol e de presidente do conselho de administração da companhia AAA Seguros, sociedade em que a petrolífera angolana era inicialmente única acionista, terá levado a cabo naquele período "um esquema de apropriação ilegal de participações sociais" da seguradora e de "rendimento e lucros produzidos pelo sistema" de seguros e resseguros no setor petrolífero em Angola, graças ao monopólio da companhia.
Para Irene Neto, o que aconteceu ao marido foi resultado de uma pressão mediática sobre a Procuradoria Geral da República de Angola. O empresário começou por ser investigado na Suíça, por suspeita de branqueamento de capitais, há cerca de dois anos, com base numa denúncia de um banco. Em Angola, a investigação começou no verão de 2020, o que conduziu à sua prisão preventiva.
Questionada sobre as ligações do marido a Manuel Vicente, à data o homem forte da petrolífera e depois vice-Presidente de Angola, Irene Neto limitou-se a dizer: "O engenheiro Manuel Vicente era o Presidente da Sonangol e o meu marido trabalhava na Sonangol".
Entretanto, sublinhou que "naquela altura, mais do que Manuel Vicente, havia outras estruturas supra Manuel Vicente" e acrescentou que "assim como tudo, e todo o resto que se fazia em Angola, foram tomadas decisões, foram criados grupos, foram distribuídas ações e participações por orientação do mais alto titular do poder Executivo", frisou.