1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Fim do "saco azul" na Presidência da República?

7 de junho de 2019

Presidência da República foi sempre acusada de entregar dinheiro de origem duvidosa a empresários e associações para branquear a imagem do partido no poder, o MPLA e a do chefe de Estado

https://p.dw.com/p/3K30j
Angola - Uferstraße in Luanda
Banco Nacional de Angola (Luanda).Foto: DW/N. Sul d'Angola

Em Angola, analistas afirmam que o "saco azul” "deixou de ter a dimensão que tinha” e os beneficiários já começaram a ressentir-se da ausência dos valores. Agora, querem saber se o Ministério das Finanças continua a financiar "uma vez que já não fazem tal trabalho”.

Ao longo dos anos, a Presidência da República foi sempre acusada de entregar dinheiro de origem duvidosa a empresários e associações para branquear a imagem do partido no poder, o MPLA, e a do chefe de Estado.

Em declarações a DW África, Benedito Jeremias "Dito Dali”, um dos ativistas angolanos que lutaram nas ruas de Luanda contra as alegadas más políticas públicas da anterior governação e a destituição do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, começou por explicar o significado do "saco azul”.

"É um dinheiro roubado dos cofres públicos, sem justificação, sem transparência e sem dizer o destino do dinheiro. E é esse dinheiro que era usado para os cambalachos  (esbanjamento) ”.

A história do "saco azul” não é nova. O ativista do conhecido caso dos "15+2” também explica o destino que era dado aos valores que supostamente eram extraídos dos cofres do Estado."Sempre existiu o saco azul. O dinheiro era gasto desnecessariamente para suportar os bajuladores, para comprar as vozes críticas. Também servia para despejar nas maratonas (eventos de comidas e bebidas) e campanhas a favor de José Eduardo dos Santos”.

Angola Protest in Luanda Dito Dali
Ativista angolano Benedito Jeremias (Dito Dalí).Foto: DW/B. Ndomba

O país tem uma nova governação desde setembro de 2017, mas com o mesmo partido desde 1975, o MPLA.

O jornalista angolano Ilídio Manuel esclarece que os casos de verbas não orçamentadas vindas da Presidência da República tendem a reduzir na era, João Lourenço.

Para Ilídio Manuel, "o saco azul deixou de ter a dimensão que tinha” e que atualmente no país, há menos "visibilidade agora de ações promovidas pela Presidência da República. Anteriormente a presidência da república era quase pau para toda obra e era sempre questionável como é que esse dinheiro era obtido, uma vez que, eram verbas que não estavam orçamentadas”, frisou o jornalista.

Associações e empresários em declínio

Algumas organizações e empresários que dependiam destes valores estão é declínio. Entretanto, suspeita-se que o Clube desportivo Kabuscorp do Palanca, do chamado "empresário da Juventude” Bento dos Santos Kangamba, dirigente do MPLA e genro por afinidade do ex-presidente José Eduardo dos Santos, também esteja a ressentir-se. Esta semana a Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA) ordenou que a equipa fosse relegada ao segundo escalão do futebol angolano. Em causa está a dívida que tinha com o jogador brasileiro Rivaldo pelos anos que atuou no Girabola, campeonato angolano de futebol da primeira divisão.

Fim do "saco azul" na Presidência da República?

"É natural que elas (as empresas) recitam-se do (saco azul) como já estão a ressentir da crise económica e financeira que o país vai registando. Portanto, já não temos tantos episódios de despesismo como tínhamos anteriormente. Anteriormente davam-se ao luxo de gerir o dinheiro para determinadas coisas supérfluas. Basta ver, por exemplo, os músicos de renome e o envolvimento dos empresários nas campanhas eleitorais”, sublinha Ilídio Manuel.

Agora, o analista questiona: porque o governo continua a dar verbas às associações e empresas que não prosseguem interesse público?

"Neste momento não se sabe se os movimentos de caráter bajulatório que tinham como objetivo promover a imagem do partido governante e do próprio Presidente da República, se continuam a receber dinheiro do Estado para este fim. Elas deixaram de fazer o trabalho que anteriormente faziam com aquela visibilidade que era conhecida, mas o Ministério das Finanças não é claro neste aspeto”.

 

Saltar a secção Mais sobre este tema