Angola: Funcionários acusam Rádio Despertar de "perseguição"
1 de novembro de 2022No dia 23 de setembro de 2022, seis funcionários da Rádio Despertar ter-se-ão envolvido numa tentativa de paralisação das emissões. Segundo alguns jornalistas ouvidos pela DW África, a paralisação das emissões tinha um único objetivo: "Pressionar a direção da estação a dialogar com os trabalhadores" sobre as precárias condições em que os funcionários se vêem obrigados a trabalhar.
As medidas de retaliação por parte da direção da rádio não tardaram. Os jornalistas envolvidos foram imediatamente ameaçados com cortes de salário e até com o despedimento, na sequência de um parecer do gabinete jurídico da Rádio Despertar publicado esta semana.
Nesse parecer, a rádio recomenda, nomeadamente, o corte de 20% dos salários dos funcionários Sebastião Numa, Vitoria Sacuta, Agostinho Cayola, e, como medida gravosa, a expulsão de Joaquim Agostinho Mundanga, considerado o "cérebro da tentativa de paralisação".
Por sua vez, os funcionários visados pelas medidas punitivas acusam a direção da estação de "perseguição".
"Tentaram forçar interrupção das emissões"
Recorde-se que os funcionários constestatários, no dia em que estava prevista a paralisação, encerraram o portão que dá acesso às instalações da Rádio Despertar para impedir a entrada de outros trabalhadores, assim como do diretor da rádio, Horácio Reis.
O jornalista Sebastião Numa, um dos visados pelas ações da direção da rádio, em entrevista à DW África, questiona a competência do diretor, criticando a forma como Horácio Reis lida com os trabalhadores: "Não é a pessoa indicada para dirigir a Rádio Despertar, pelas suas atitudes, pela forma como tem lidado com as condições de vida dos trabalhadores".
Segundo o jornalista, os visados correm "todo o tipo de risco", incluindo chamadas telefónicas anónimas e insultos. "Somos insultados nas outras instituições como os 'bica-pedras', 'bica-lata', porque andamos a pé. A direção tem uma viatura que se comprou para serviços de reportagem e administrativos, mas aquele transporte anda unicamente refém do diretor", acusa Numa, acrescentando que a sua atitude e a dos seus colegas tinha como única intenção forçar o diretor ao diálogo.
Para o jornalista ao serviço da Rádio Despertar há mais de dez anos, a decisão da rádio é injusta, pois os trabalhadores teriam repetidamente tentado chamar a atenção da atual direção da estação para o clima de insatisfação na empresa: "Considero esta suspensão uma injustiça e vejo isso como perseguição por parte do atual diretor da Rádio Despertar. Não há causas suficientes para estar suspenso das minhas atividades de jornalista da Rádio Despertar e estar a enfrentar um processo disciplinar", conclui Sebastião Numa.
Contactado pela DW África, o diretor da Rádio Despertar, Horácio Reis, refuta as acusações de má gestão e falta de diálogo com os seus colegas de trabalho, salientando que o clima de insatisfação vivido na rádio está a ser fomentado por "um determinado grupo de pessoas, já identificadas", que nunca teriam visto com bons olhos a sua indicação para o cargo de diretor da empresa.
No seu documento de fundamentação, o gabinete jurídico da Rádio Despertar considera que a atitude tomada pelos funcionários lesou gravemente a empresa, para além de os funcionários visados não terem observado os princípios legais para a referida tentativa de paralisação.
Advogado: "Medidas exageradas contra trabalhadores"
O advogado dos trabalhadores, Lourenço Canjanja, por sua vez, classifica as medidas contra os jornalistas tomadas pela Rádio Despertar, como exageradas: "As medidas propostas são, de facto, bastante gravosas e, para o bem da estabilidade, não só do emprego, mas também das famílias, nós vamos, efetivamente, recorrer dessa decisão, para que a saída seja, efetivamente, diferente", explica.
Canjanja não descarta a possibilidade de intentar uma ação judicial contra a Rádio Despertar, caso não sejam repostos "todos os direitos" dos seus constituintes.
Notícia atualizada às 11h27 (UTC) de 04.11.2022.