Angola: Há mais heróis para além de Agostinho Neto
17 de setembro de 2018O dia 17 de setembro é a data do nascimento de António Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola independente, e Dia do Herói Nacional. A data homenageia o médico e o poeta pelo seu contributo para a descolonização do país.
O cidadão Marcos Francisco, residente em Luanda, não esconde a admiração que nutre por Neto: "Foi um presidente que libertou o seu povo. Temos a ele como um exemplo a seguir. Para além disso é um escritor, um poeta, acho que deve ser lembrado todos os anos porque ele foi um Presidente muito bom para nós, libertou o povo”.
Mas, Para António Vemba, outro cidadão residente na capital angolana, o Dia do Herói Nacional deve ser dedicado a todos que contribuíram para a libertação de Angola: "Nas escolas deviam divulgar as figuras que lutarem e [ensinar] quem são os heróis. Mas você vai às escolas e encontra uma História bem fantasma que só fala sobre Agostinho Neto. Agostinho Neto não lutou sozinho. Ele foi egoísta proclamando a independência sozinho enquanto havia outros que também lutaram. Lutaram três que eu conheço. Deviam ser considerados os três”.
Os três heróis de quem António Vemba fala são Agostinho Neto do MPLA, partido no poder, Jonas Savimbi, líder fundador da UNITA, hoje o maior partido da oposição, e Holdem Roberto da FNLA, também partido da oposição, este último descrito no livro de João Paulo Ganga como "o pai do nacionalismo angolano”.
"O primeiro revolucionário da República de Angola é Holden Roberto embora a FNLA esteja como está, mas eu também o considero [herói]”, diz António Vemba.
Onde ficam os heróis anónimos?
Para além destes três, há outros nomes que lutaram contra o colonialismo português que também deviam ser lembrados, sublinha Cláudio Fortuna do Centro de Estudos Africanos (CEA) da Universidade Católica de Angola.
"O Dia do Herói Nacional deve ser no plural e não apenas no singular. Agostinho foi um dos indivíduos que desempenhou um papel preponderante, foi o primeiro Presidente da República de Angola. Mas houve outros heróis anónimos e não só que tanto quanto Agostinho Neto desempenharam um papel importante na defesa e vanguarda do nacionalismo angolano”.
O CEA leva a cabo um projeto denominado "encontro com a história”. Por lá já passaram figuras como a engenheira Albina Assis antiga ministra dos petróleos e o engenheiro Ernesto Mulato ex-vice presidente da UNITA.
O investigador Cláudio Fortuna diz que há falta de imparcialidade na composição da História de Angola. Por isso, entende que muitos conteúdos ministrados nas escolas angolanas deveriam ser revistos: "A História de Angola tem sido escrita na perspetiva do vencedor da guerra. À medida que o tempo vai passando vamos descortinando algumas inverdades que nos foram impingidas ao longo deste tempo como se fosse verdades."
"As autoridades vão ser forçadas a dar a mão à palmatória e rever algum conteúdo da História de Angola que tem sido adulterada”, acredita Fortuna.