Abel Chivukuvuku denuncia alegado homicídio do sobrinho
9 de julho de 2018A Polícia angolana divulgou esta segunda-feira (09.07) um comunicando esclarecendo que Lucas Chivukuvuku de 32 anos de idade, morreu por volta das 20 horas do dia 5 de julho, num acidente de viação por despiste e consequente "tombamento de um Toyota de cor azul e branca (Táxi)".
Segundo as autoridades um motorista de 29 anos, que conduzia com uma taxa de álcool no sangue, ao circundar uma rotunda por baixo do viaduto da avenida Deolinda Rodrigues (Luanda), perdeu os travões e ao tentar dominar o veículo, embateu na berma da estrada, um choque que "originou o tombamento do automóvel".
Como consequência do acidente, um dos ocupantes (na altura da ocorrência não identificado por não se fazer acompanhar de qualquer tipo de identificação) acabou por perder a vida ainda no local da ocorrência.A Policia realça ainda que o falecido e "por precipitação, saltou do veículo, veio a ser identificado posteriormente". Trata-se de Lucas Kapoko Chivukuvuku, filho de Américo Chivukuvuku, irmão de Abel Chivukuvuku, líder da terceira força política em Angola, a CASA-CE (Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral).
Resultados da autópsia
No entanto a autópsia foi feita na manhã desta segunda-feira no Hospital Josina Machel, em Luanda, e segundo Abel Chivukuvuku, tio da vítima, o resultado contradiz com as informações avançadas pelo Comando Provincial da Polícia de Luanda.
Em entrevista à Rádio Eclesia, o presidente da CASA-CE disse que o sobrinho terá sido morto por "asfixia e depois um veículo pesado passou por cima dele". E Chivukuvuku vai mais longe ao afirmar que "os médicos legistas dependem da orientação superior da polícia quando fazem o veredito. Entretanto, descartam completamente a teoria apresentada no início pela polícia de que teria havido capotagem. Eles, os médicos, acham que não houve. Neste momento os indicadores são de que teria sido morto por asfixia e depois um veículo pesado passou por cima dele. Portanto tem o crânio completamente rebentado, está com várias costelas partidas mas não tem lesões nos membros superiores e inferiores", disse Chivukuvuku, relatando o relatório da autópsia feita no Hospital Josina Machel.Abel Chivukuvuku acrescentou ainda que os médicos legistas de nacionalidades russas e cubana garantiram que o funcionário da PGR não foi vitima de um acidente de viação tal como reportou a polícia.
Lucas Kapoko Chivukuvuku, trabalhou cerca de dez anos na Procuradoria-Geral da República e a família alega que o jovem foi morto por estar a investigar casos de corrupção.
"Ao longo desse tempo ele sofreu muito assédio para que adulterasse processos. Ultimamente ele queixou-se à mãe, dizendo que estava sob pressão para suborno porque ele estava com processos muito sensíveis. Não nos dizia nada e preferia o profissionalismo e falava somente com a mãe", explicou Chivukuvuku.
Sob pressão
Ainda de acordo com o líder da CASA-CE que esteve esta segunda-feira na PGR para pedir esclarecimentos, Lucas tinha orientações de bloquear algumas contas na sexta-feira passada (06.07). Mas não chegou a executar as instruções e foi encontrado morto.
"Ele tinha recebido instrução de ir aos bancos na sexta-feira de manhã bloquear algumas contas. Não sabemos de que entidade ou de que empresas e nada mais se ouviu dele. A chefe dele disse-nos, na PGR quando há necessidade de bloqueio de contas o responsável leva os processos para casa para não permitir extravio no escritório".Para Chivukuvuku o suposto assassinato do seu sobrinho, compromete a programa de combate à corrupção do executivo de João Lourenço.
"É tudo muito estranho. Primeiro as coisas não foram tocadas, o telefone foi encontrado com os colegas. Se agora estamos com a lógica da luta contra a corrupção. Esta luta não vai acontecer se aqueles que investigam são assassinados. Como é que se vai fazer esta luta contra a corrupção se não se pode investigar? Os outros que vão ser recrutados para estes lugares, vão ter medo ou vão aceitar o suborno", frisou Abel Chivukuvuku.
Levar o caso até às últimas consequências
Abel Chivukuvuku promete levar o caso até às últimas consequências e desafia mesmo o Presidente da República, João Lourenço: "Ou se assume como um líder para a mudança, em todos os níveis da vida nacional, ou então será a mesma coisa e ele saberá que não terá futuro".Entretanto a Procuradoria-Geral da República de Angola ainda não fez quaisquer declarações sobre a morte do seu funcionário, mas em comunicado enviado à agência de notícias Lusa, já depois das declarações de Abel Chivukuvuku, a Procuradoria esclarece que o funcionário Lucas Chissolokumbe Chivukuvuku exercia a função de Oficial de Diligências nos serviços da PGR junto da área dos Crimes Económicos do Serviço de Investigação Criminal (SIC) de Luanda.
Contudo, esclarece ainda, as suas funções "não incluíam responsabilidades específicas para a investigação de crimes ou capacidade para determinar restrição de movimentos financeira no âmbito da instrução processual", afastando, na falta de mais elementos, "qualquer presunção de que a morte tenha como motivação uma eventual perseguição por razões profissionais".
"Todo esforço será envidado para o esclarecimento das circunstâncias em que o prematuro infausto ocorreu", refere ainda a PGR.