Angola: "Mercado de emprego está fechado" aos jovens
13 de setembro de 2019Os jovens angolanos esperam e desesperam por mais postos de trabalho. 28,8% da população angolana está desempregada, segundo o Instituto Nacional de Estatística - e a maioria dos desempregados são jovens.
"A maior parte da juventude clama por um emprego digno", desaba um jovem desempregado que solicitou o anonimato em entrevista à DW África.
Milhares de jovens em busca do primeiro trabalho acorreram, na semana passada, à Feira do Emprego no Centro de Conferências de Belas (CCB), em Luanda. Mas, por causa da confusão que se gerou, várias pessoas desmaiaram ou ficaram feridas.
"Não havia condições para atender à demanda", conta Cláudio Fortuna, investigador da Universidade Católica de Angola. A feira, organizada pelo Instituto Angolano da Juventude, "foi mal pensada, mal idealizada, e deu para o torto porque havia questões que não foram levadas em consideração", acrescenta Fortuna.
Muita procura, pouca oferta
Em agosto, entraram no mercado de trabalho mais de 900 licenciados. Aliás, é assim todos os anos. Mas não há empregos para toda a gente.
"O mercado de emprego está fechado", comenta um desses licenciados, o jurista Alberto Dala. "Não há espaços suficientes para todos os licenciados que as universidades públicas e privadas produzem anualmente."
O desemprego tem levado às ruas de Luanda e de outras cidades centenas de jovens, que exigem do Presidente João Lourenço a materialização da promessa eleitoral de 2017 de criar de 500 mil postos de trabalho.
Políticas para incentivar o empreendedorismo
Para combater o desemprego, o Executivo angolano projeta criar 250 mil postos de trabalho em diferentes áreas, nos próximos três anos, no âmbito do Plano de Ação para a Promoção da Empregabilidade (PAPE).
Em abril, a administração de João Lourenço disponibilizou 58 milhões de euros para ajudar a combater o desemprego. Além disso, tem apostado na diplomacia para trazer a Angola investidores internacionais e mexeu na legislação da atividade económica privada, facilitando também a entrada de alguns investidores no país.
No entanto, para o pesquisador Cláudio Fortuna, é preciso fazer mais.
"Nós não temos uma política consentânea de criação de empregos. E também não há, ao nível das universidades, o incentivo da criatividade", comenta Fortuna. "Os estudantes saem das universidades sem a veia criativa e isso torna-os cada vez mais dependentes. Isso não ajuda."
Segundo o pesquisador, é necessário melhorar a oferta formativa. A aposta na quantidade em detrimento da qualidade "tem efeitos perversos para a economia", adverte Cláudio Fortuna.