Moxico regista abandono em massa de cursos superiores
8 de julho de 2021No ano académico 2020/2021, que já está a conhecer o seu fim, mais de 6 mil jovens ingressaram nas duas instituições privadas de Ensino Superior existentes na província do Moxico, em Angola.
Segundo uma fonte do setor de educação, ouvida pela DW África, 40% destes estudantes foram forçados a abandonar os seus cursos por questões financeiras. Independendo do curso, o valor mínimo da propina é de 22.600 kwanzas, mas é possível que a propina mensal chegue a 27.000 kwanzas, cerca de 35 euros.
"Um estudante que desiste de sua formação pode sofrer as seguintes consequências: pode tornar-se um cidadão frustrado, delinquente, rebelde e até perigoso, podendo ainda vir a ser um criminoso", alerta o sociólogo João Pedro.
Sem criatividade?
Para o estudante Ismael Miquinichi, do terceiro ano de Sociologia, o Instituto Superior Politécnico Privado do Luena não propõe alternativas favoráveis aos estudantes diante da crise, o que impede que muitos continuem os seus cursos.
"As pessoas perderam o poder de compra, já não conseguem pagar as propinas e a instituição não consegue implementar políticas viáveis para melhorar tal situação. O Instituto Superior Politécnico Privado do Luena depende unicamente das propinas dos estudantes para acudir as suas despesas com pessoal e outros gastos correntes", critica.
Para Miquinichi, as instituições de ensino deveriam ter um fundo de maneio "para não dependerem totalmente do dinheiro dos estudantes". Por seu turno, o estudante do seugndo ano de Direito, João Baptista, pensa que o Instituto Superior Politécnico Privado Walinga do Moxico deveria rever as suas posições.
"Em função do desenvolvimento de certas províncias, que ainda é baixo, e tendo em atenção a subida constante dos preços dos produtos da cesta básica, [fica difícil] de uma ou outra maneira o pagamento regular das propinas", opina Baptista, acrescentando que muitos estudantes optam por sacrificar os estudos para salvaguardar a economia familiar.
Alunos mais velhos
A DW África tentou ouvir gestores de instituições privadas de Ensino Superior, a Associação de Instituições de Ensino Superior Privado Angolanas, bem como a Associação dos Estudantes, mas não houve resposta aos pedidos de entrevista até o fecho desta reportagem.
Um fenómeno próprio de Angola é o aumento da demanda de pessoas acima dos 30 anos por cursos de nível superior. Trata-se da geração prejudicada por mais de três décadas de guerra civil. A província do Moxico foi um dos maiores palcos dos combates e a instabilidade provocou o ingresso tardio dos cidadãos no sistema de ensino.
Devido a este fenómeno, o pedagogo Curica Job defende que haja bolsas de estudo no país para estudantes acima de 25 anos - idade limite para bolseiros. Este público é afetado pelo desemprego. Sem uma bolsa, muitos acabam por desistir de estudar porque precisam buscar formas de sobreviver e garantir o sustento da família.
"É necessário que o Estado favoreça também os estudantes com idade superior a 25 anos de idade", sugere.