Angola: O que está a causar fuga de membros na UNITA?
11 de julho de 2024Só na província do Bengo, pelo menos três candidatos à deputados nas últimas eleições gerais renunciaram a sua militância do maior partido da oposição angolana.
Maria João Mateus é uma das que entendeu colocar ponto final a uma trajetória de quinze anos na UNITA. Desempenhou várias funções, como de ministra das Pescas, Mar e Ambiente do Governo Sombra e foi candidata à deputada nas últimas eleições.
Elizário de Oliveira é outro que deu por encerrado o seu percurso de vinte e seis anos no galo negro. Já foi secretário provincial do braço juvenil dos maninhos, responsável pelos assuntos eleitorais, comissário eleitoral, candidato à deputado, entre outras funções. Oliveira desabafa:
"Permanentemente, eu era acusado de combater a direção do partido, isto é, o secretário provincial, desde o tempo do senhor Simão Dembo, passando pelo malogrado Álvaro Ndenguembwale, até ao atual secretário, permanentemente", conta.
E Oliveira prossegue com as denúncias: "O atual secretário provincial e o seu núcleo duro dizem: o Elizário nunca pode ser secretário provincial. O secretário provincial, por exemplo, Senhor Moniz Alfredo chegou mesmo a dizer: que o atual vice-presidente da UNITA disse: o Elizário só chegará a esta função passando por cima do meu cadáver.”
UNITA minimiza saída de membros do partido
Quem também seguiu o mesmo rumo é Jovete Domingos, cujo nome constou da lista de candidatos a deputados nas eleições de 2022. Diz que o regionalismo, tribalismo e tráfico de influências levraram-nos a tomar a decisão. Jovete diz que há pessoas que transformaram a UNITA num péssimo partido e recorre a uma analogia desportiva para justificar a sua saída.
"Os excelentes jogadores já mais permitem ficar numa equipa onde não são tidos e nem achados, nessa altura, se você é bom jogador acaba ficando aquecer o banco e perde o traquejo, como não queremos nos ver mortos politicamente, então, é preferível afastar-se e pensar numa nova Angola” disse.
No entanto, o segundo secretário provincial e deputado da UNITA,Joel Pacheco, entende ser uma decisão normal: "Estamos em democracia, é um ato normal que alguém a dada altura, tal como militou também entenda por fim a sua militância no partido, portanto, é a democracia. Acho que eles é que perdem a UNITA, não é a UNITA que perde”.
Mas há quem entenda que não é um fato a ser tratado com indiferença. O analista Simão Fernandes entende que “perder duas figuras mais uma assim, num ápice, não é recomendável para um partido que tem vocação para poder. Não é correto.”