Angola: Onde será o funeral de José Eduardo dos Santos?
11 de julho de 2022O tributo ao ex-Presidente da República decorre em todas as 18 províncias angolanas. Em Luanda, capital do país, o velório público foi aberto oficialmente esta segunda-feira (11.07) pelo Presidente João Lourenço na Praça da República, onde José Eduardo dos Santos cessou as funções a 26 de setembro de 2017.
Governantes e vários cidadãos lembram Zedu como um "bom pai" da Nação angolana. João Lourenço disse que "nos momentos mais críticos do país, [JES] entregou-se por inteiro à defesa da Independência e da Soberania Nacional".
Mas é com o local do seu funeral que os cidadãos estão preocupados, tendo em conta o desentendimento que reina entre os filhos mais velhos de José Eduardo dos Santos e o Executivo de João Lourenço.
Apelo ao bom senso
Populares que prestaram hoje homenagem a José Eduardo dos Santos apelaram ao bom senso entre as partes. José Ferraz lembrou Zedu como "homem da paz" e disse que o ex-chefe de Estado deve repousar no solo angolano.
"Como uma figura incontornável, não vejo o camarada Presidente José Eduardo dos Santos a ser enterrado fora do nosso território. Acredito que a família e o Executivo devem achar meio termo para que o corpo seja transladado para Angola e que se faça um funeral digno com honras de um chefe de Estado", apelou Ferraz.
Para Paulo Sousa, outro cidadão angolano, "a família até pode contestar", mas durante o seu regime José Eduardo dos Santos conquistou "outros filhos”.
"Ele foi pai de uma Nação. Os filhos não são só os legítimos. São também os filhos que ele criou e que ganhou na sociedade durante os 38 anos da sua governação", disse.
Negociação sobre o funeral
O ministro angolano da Justiça confirmou na manhã desta segunda-feira (11.07) que há em Barcelona uma delegação do Governo a negociar com a família do antigo Presidente o envio dos restos mortais para Angola.
Francisco Queiroz garantiu que as negociações estão no bom caminho. "Neste momento não tenho informação, mas consta que as coisas estão a decorrer bem dentro daquilo que se pode considerar o normal nesta ocasião".
O ministro da Justiça e dos Direitos Humanos acredita que o Governo e a família vão chegar a um consenso. "Creio que o bom senso, calma, serenidade vão imperar e tudo vai se resolver com tempo", disse o governante.
Filhos de JES podem entrar em Angola
O vice-procurador-geral da República, Mouta Liz, assegurou que durante o período de luto nacional os filhos de Dos Santos exilados no exterior podem entrar e sair do país e que não haverá nenhuma detenção.
"É preciso que haja bom senso da família para não prejudicar aquilo que é património da Nação. O Presidente José Eduardo dos Santos, apesar de ser da família, é património da Nação. Nem se prendem pessoas em dias de óbito, a própria lei exclui essa possibilidade. Mas a prisão não é o remédio. Os seres humanos têm de conversar sempre", afirmou.
Por seu turno, a docente universitária Margareth Nanga explica que não cabe unicamente ao Estado determinar a organização da cerimónia fúnebre. "A família tem uma palavra sobre este aspeto".
Nanga aconselha "uma intervenção diplomática do Estado, no sentido de negociar com a família, que prevaleça aquela vontade mais confortável para os ambos os lados".
"E no caso em concreto, é que o ex-Presidente da República possa ser enterrado no seu país, para o qual serviu durante 38 anos, onde tem as suas raízes", defendeu a académica angolana.
Legado de Zedu
A paz e a reconciliação nacional é o legado que José Eduardo dos Santos deixou para o país, dizem os cidadãos que lhe estão a homenagear. Dos Santos, também é lembrado como "um bom patriota".
A vice-presidente do MPLA, Luísa Damião, recordou à DW África a figura de José Eduardo dos Santos como um "diplomata hábil” e um construtor de pontes e da unidade.
"Foi um combatente da liberdade, um pan-africanista, notabilizou-se como um diplomata hábil, num contexto de Guerra Fria e de muitas adversidades. Foi um político construtor de pontes e defendeu sempre a unidade e a coesão, que prestou o seu contributo ao país. Daí ter sido considerado o 'arquiteto da Paz'", concluiu.