Angola: Os ativistas já não se fazem ouvir?
18 de fevereiro de 2024O movimento contestatário angolano intensificou-se em 2011 com o advento da Primavera Árabe. Durante os últimos anos, realizaram-se várias manifestações nas ruas de Luanda contra as alegadas más políticas públicas da governação angolana.
Houve vários repressões e detenções, entre eles o processo dos "15+2", em 2015. Mas, ultimamente, a contestação da sociedade civil parece ter abrandado em Angola.
Para a ativista Laurinda Gouveia, o movimento contestatário está calado. "Digo que foi silenciado, porque muitos também se aperceberam que, se calhar, o caminho não seria este, seria estar no parlamento ou em outros lugares", comenta.
Muitos ativistas emigraram. É o caso de Sekane de Lemos que diz que alguns abandonaram o país porque perderam a confiança nos dois principais partidos angolanos: o MPLA e a UNITA. Segundo o ativista, a situação começou a piorar depois das eleições gerais de 2022.
"Nós precisávamos de uma força maior. E nós, ativistas, decidimos apostar num outro partido, a UNITA. E de lá para que cá, as coisas não foram nada muito bem", considera.
Agora, os ativistas sobrevivem como podem, conclui Sekane. "Hoje muita gente está no partido A ou no partido B porque, se ficar neutro, este ativista automaticamente vai passar mal", adverte.
Enquanto uns emigraram, outros, como Adolfo Campos, Gilson da Silva Moreira "Tanaece Neutro", Hermenegildo André "Gildo das Ruas" e Abraão Pedro Santos encontram-se a cumprir penas de prisão por ultraje ao Presidente angolano, João Lourenço.
No seio dos ativistas, há igualmente acusações de aliciamento, sobretudo nas redes sociais.
Hoje reina o receio e o medo em participar em manifestações de rua, diz Laurinda Gouveia, uma dos "15+2":
"Agora se tu convocas uma manifestação, um ou outro aparece ou mesmo ninguém aparece. Ficas lá tu sozinha ou sozinho. O que José Eduardo não conseguiu fazer, ele [João Lourenço] conseguiu fazer com dinheiro e com as armas", opina.
Luís Jimbo, especialista em resolução de conflitos, confirma a redução da organização de manifestações por parte de ativistas ou de organizações políticas e da sociedade civil. "Mas, por outro lado, o exercício à liberdade de manifestação nas questões sociais e económicas e a manifestação espontânea que acontece na rua, nas praças, há todos os dias", admitiu.
Para Luís Jimbo, apesar de não se registarem com mais frequência manifestações organizadas nas ruas do país, o cidadão tem cada vez mais noção dos seus direitos, liberdades e garantias.
"A consciência da liberdade de manifestação aumentou muito na juventude. Hoje os jovens sabem usar este instrumento para fazer pressão", conclui, referindo-se aos protestos contra o poder local.