Angola-Portugal: Visitas suspensas apesar de boas relações
24 de janeiro de 2018António Costa falava em Davos, na Suíça, no final de uma reunião de 40 minutos com o Presidente angolano, João Lourenço, que decorreu no hotel onde o líder do executivo português está instalado.
"Este foi um encontro no quadro das relações permanentes que temos mantido - dos bons encontros que tenho mantido com o Presidente João Lourenço. Fizemos o ponto das relações muito fraternas que existem entre Portugal e Angola, que, felizmente, decorrem muito bem dos pontos de vista económico, das relações entre as nossas empresas, das relações culturais e entre os nossos povos", afirmou o primeiro-ministro português.
António Costa referiu-se depois ao processo da Procuradoria Geral da República portuguesa que envolve o ex-vice-presidente angolano Manuel Vicente, no âmbito da "Operação Fizz", em que está acusado de branqueamento de capitais e de corrupção ativa. E afirmou que não se pode ignorar "que existe uma questão - e uma só questão - que não depende dos poderes políticos de Portugal e de Angola, que decorre exclusivamente da responsabilidade das autoridades judiciárias e que tem uma única consequência: Não haver visitas de alto nível de uns e outros aos respetivos países".
"Felizmente, tudo o resto decorre com toda a normalidade na excelência das nossas relações. Sempre que me encontro com o Presidente João Lourenço encontramo-nos como bons amigos", disse Costa.
"Uma imagem vale mais do que mil palavras"
Interrogado sobre se este encontro teve alguma consequência positiva para desbloquear o problema do foro judicial existente entre os dois países, o primeiro-ministro português respondeu que "uma imagem vale mais do que mil palavras".
"A forma calorosa como o Presidente João Lourenço cumprimentou a delegação portuguesa é um bom sinal das boas relações que existem entre nós. Na vida das pessoas, entre amigos, muitas vezes há problemas que se metem pelo caminho - problemas que nem uns nem outros podem resolver. Neste caso, nem as autoridades políticas de Angola, nem as portuguesas, podem resolver, mas esse problema não perturba o que é essencial: Como disse o ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola [Manuel Domingos Augusto], recentemente, as relações luso-angolanas são insubstituíveis", citou o líder do executivo português.
"Vamos aguardar serenamente que as decisões que as autoridades judiciárias têm de tomar sejam tomadas. Um dia, seguramente, poderei encontrar o Presidente João Lourenço ou em Luanda ou em Lisboa. Enquanto não nos encontramos em Lisboa ou em Luanda, também não faltam lugares no mundo para nos encontramos - e as relações vão prosseguindo", declarou.
Questionado sobre eventuais consequências negativas se o caso que envolve Manuel Vicente se prolongar por muito tempo, o primeiro-ministro referiu-se "a uma única restrição: Visitas ao mais alto nível de chefes de Estado e de Governo aos dois países". "Fora essa restrição tudo decorre normalmente. Os angolanos continuam a ser bem-vindos Portugal e os portugueses muito bem-vindos a Angola. Mesmo nas relações políticas entre os dois países, sempre que se encontram, são de grande estima e de amizade", acrescentou.
Separação do processo de Manuel Vicente
No mesmo dia (23.01), o ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola, Manuel Domingos Augusto, congratulou-se quartacom a decisão da Justiça portuguesa de separar o processo de Manuel Vicente, dizendo que corresponde a um passo no sentido desejado pelas autoridades de Luanda.
O chefe de Estado angolano delegou ao chefe da diplomacia as declarações à comunicação social sobre os resultados da reunião com o primeiro-ministro português. "Angola nunca interrompeu o diálogo com Portugal", salientou o responsável máximo da diplomacia angolana, antes de se referir ao processo da Justiça portuguesa contra o ex-vice-Presidente.
"Todos desejamos que o problema venha a ser resolvido o mais breve possível, para que a harmonia que tem caraterizado as nossas relações possa ser retomada.Tivemos a oportunidade de trocar algumas ideias com o primeiro-ministro português e não fugimos à questão que a todos incomoda", disse.
"Reafirmámos a esperança de que haja a muito breve trecho um desfecho que corresponda à vontade dos dois governos, mas também dos povos angolano e português", declarou Manuel Domingos Augusto.
Numa alusão ao processo contra Manuel Vicente, Manuel Domingos Augusto manifestou-se "otimista de que o escolho (obstáculo) que está no caminho luso-angolano possa ser removido". "É aquilo que todos desejamos: Uma relação forte, singular e única", acrescentou.