1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Angola: sinais positivos no processo de reconciliação

13 de setembro de 2018

Pedido do Governo angolano para transladar restos mortais do general da UNITA "Ben Ben” é sinal de consolidação da reconciliação nacional, dizem analistas e Presidência sul-africana. Delegação angolana está em Pretória.

https://p.dw.com/p/34nlv
UNITA Flagge auf einer Kundgebung in Huambo in Angola
Foto: DW/N. Sul D'Angola

Os restos mortais do antigo chefe de Estado Maior Adjunto das Forças Armadas Angolanas, Arlindo Chenda Pena, falecido na África do Sul em 1998, chegam esta quinta-feira (13.09) a Luanda. O general "Ben Ben", como era conhecido, foi também vice-chefe de Estado Maior das FALA (Forças Armadas de Libertação de Angola), braço armado da UNITA.

Em declarações à imprensa local, Alcides Sakala, porta-voz do "Galo Negro", explicou que, na sexta-feira (14.09), haverá uma cerimónia oficial e, no dia seguinte, os restos mortais seguem para a província angolana do Bié, a sua terra natal.

A decisão de repatriar os restos mortais surgiu na sequência de um pedido do líder da UNITA, Isaías Samakuva, ao Presidente angolano, João Lourenço, que, por sua vez, contactou o homólogo sul-africano, Cyril Ramaphosa, que deu "luz verde" à exumação.

Sinal de consolidação: sim ou não?

Em entrevista à DW África, o analista político Osvaldo Mboco afirma que esta posição tomada pelo Governo angolano, liderado pelo MPLA, é um sinal de consolidação da reconciliação nacional. Segundo Osvaldo Mboco, este Governo "está com uma política um pouco mais inclusiva, e também de apostar qualquer elemento que possa servir de fantasma, no âmbito de um espírito de reconciliação nacional, ou então, qualquer elemento que pode ser usado como aproveitamento político e uma falta de vontade política de querer ver as soluções, ou alguns elementos ultrapassados. O Presidente João Lourenço teve um posicionamento assertivo".

Angola: sinais positivos no processo de reconciliação nacional

Já Agostinho Sicatu, apesar de louvar a iniciativa do executivo, interpreta a ação do Governo "apenas como o cumprimento "daquilo que foi acordado antes". Ou Seja, explica o também analista político, o memorando de entendimento alcançado na província angolana do Moxico. "Talvez não com maior acutilância neste aspeto político da transladação dos restos mortais do general Ben Ben, mas a reintegração dos ex-militares estava prevista no memorando de entendimento", disse.

A reintegração dos ex-militares das FALA é outra questão que consta do acordo de Luena. Na opinião de Agostinho Sicatu, "Governo e UNITA devem andar juntos, para que esse processo seja concluído. Acredito que estes que morreram foram patriotas e é necessário que tenham um funeral condigno porque, para nós africanos, isso tem muito significado. Por outro lado, João Lourenço vai tirar um aproveitamento político, mas é um aproveitamento positivo".

A reconciliação nacional em Angola começou em 2002 com o fim da guerra civil. Para Osvaldo Mboco, o processo "deve ser consolidado todos os dias com atos e práticas que visam cimentar este espírito entre os angolanos". O professor universitário explica ainda que a reconciliação não é um processo que começa hoje, "começa no momento em que os crimes de guerra foram perdoados e em que se abriu caminho para o diálogo para a reconciliação nacional entre os angolanos".

África do Sul concordou em ajudar

Südafrika Präsident Cyril Ramaphosa im Parlament
Cyril Ramaphosa, Presidente da África do SulFoto: Getty Images/AFP/R. Bosch

Também a Presidência sul-africana considerou como um contributo para a "reconciliação" angolana o apoio à transladação para Angola dos restos mortais do general da UNITA. Num comunicado enviado esta terça-feira (13.09), a Presidência de Cyril Ramaphosa avança que a cerimónia de repatriamento será realizada esta manhã, na Base Aérea de Waterkloof, em Pretória. E justifica que face "ao empenho do Presidente [de Angola], João Lourenço, em reconhecer os angolanos que lutaram na luta anticolonial pela libertação, o Presidente Ramaphosa concordou em ajudar e apoiar os esforços do Governo angolano para uma maior paz, reconciliação e união".

Também esta quinta-feira (13.09), chegou à África do Sul uma delegação do Governo de Angola, liderada pelo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos angolano, Francisco Queirós, e da qual fazem parte também oficiais generais das Forças Armadas Angolanas (FAA).

O corpo do general, formalmente equiparado a chefe adjunto do Estado-Maior General das FAA, está sepultado no cemitério de Zandfontein, em Pretória, África do Sul.

Por ter sido morto em combate, a 19 de outubro de 1998, no conflito que opôs o exército do Governo angolano às forças militares da UNITA, as autoridades sul-africanas de então decidiram embalsamar o corpo de Arlindo Chenda Pena "Ben Ben" e lacrá-lo numa urna própria para que, a qualquer momento, a família pudesse reclamar o repatriamento para Angola.