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Angola: Sindicatos ameaçam fazer nova greve geral em abril

José Adalberto
22 de março de 2024

Porta-voz sindical congratula-se com a "adesão histórica" à greve geral de três dias, apesar da detenção de grevistas. UNITA quis debater paralisação no Parlamento, mas a proposta acabou rejeitada.

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Tarja com informação de enfermeiros em greve em Luanda
Greve geral de três dias ficou marcada por, pelo menos, quatro detençõesFoto: B. Ndomba/DW

As três maiores centrais sindicais do país exigiram, ao longo de três dias de uma greve que terminou esta sexta-feira (22.03), melhores salários na função pública e a redução do Imposto sobre o Rendimento de Trabalho (IRT).

Foi a primeira paralisação geral desde a independência de Angola e afetou repartições e serviços públicos em todo o país.

Maria Teresa, moradora do bairro Luanda Sul, nos arredores de Viana, precisava de um documento dos serviços de identificação, mas quando lá chegou, teve de voltar para trás.

"Precisava de um registo criminal para cargos públicos, mas, infelizmente, cheguei à administração e encontrei tudo fechado, com um aviso a dizer que estavam apenas a fazer atendimento para registos de óbitos. Fiquei meio constrangida", lamentou.

A União Nacional dos Trabalhadores Angolanos (UNTA), a Central Geral de Sindicatos Independentes e Livres de Angola (CGSILA) e a Força Sindical (FS-CS) fazem um balanço positivo destes três dias de greve, apontando para uma adesão de 95%.

"Nós tivemos uma adesão à greve nunca vista. É um momento importante e seria bom que o Governo olhasse para isso com olhos de ver", comentou Admar Jinguma, porta-voz das centrais sindicais, que fala num momento importante para a história de Angola.

Detenções

Apesar da elevada participação na greve, os sindicatos queixam-se dos excessos da polícia, das ameaças e das pressões sobre os trabalhadores grevistas.

Fonte sindical adiantou à DW que houve quatro detenções: três grevistas passaram a noite de quarta-feira (20.03) numa esquadra policial na província do Huambo, e um enfermeiro foi detido no Bengo. Todos foram, entretanto, libertados.

Vários serviços em Luanda permaneceram encerrados ao longo dos últimos três dias
Vários serviços em Angola permaneceram encerrados ao longo dos últimos três diasFoto: B. Ndomba/DW

A Ordem dos Advogados defendeu a abertura de um inquérito para apurar responsabilidades nas detenções.

À DW, o sindicalista Admar Jinguma afirmou que as centrais sindicais ponderam abrir processos judiciais contra as autoridades que terão atuado à margem da lei. "Enquanto centrais sindicais, reserva-nos o direito de processar estas entidades que estão a optar por este caminho", salientou.

Disponíveis, mas sem diálogo à vista

Os sindicatos dizem estar disponíveis para dialogar com o Governo e ameaçam avançar para uma segunda greve geral entre os dias 22 e 30 de abril.

"O retorno às mesas de negociações dependerá daquilo que o Governo entender. A bola está do lado do Governo", afirmou Admar Jinguma.

"É o Governo que tem de nos chamar e dizer que propostas concretas tem relativamente aos pontos de nos dividem", acrescentou.

O maior partido da oposição, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), quis debater o tema da greve geral no Parlamento, mas viu a proposta rejeitada.

Em comunicado, o partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), justificou o voto contra com a necessidade de respeitar o processo de diálogo entre os sindicatos e o Governo.

O Executivo em Luanda continua com as portas abertas para o diálogo.

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