Angola: Um país jovem vai a votos
14 de agosto de 2017Com uma das populações mais jovens do mundo, segundo o Censo Geral da População e Habitação, de 2013, o xadrez político em Angola poderá ser diferente depois das eleições de 23 de agosto, devido ao voto da juventude.
Muitos jovens que votarão pela primeira vez não sentiram o impacto da guerra que acabou há 15 anos, mas sentem no seu dia-a-dia as consequências da crise económica causada pela baixa do preço do petróleo no mercado internacional. Desta vez, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder desde 1975, já não pode utilizar o argumento do crescimento económico, como fez no último pleito. Desde finais de 2015, vive-se a escassez de divisas e, consequentemente, a subida dos preços dos principais produtos básicos, como o arroz.
Adão da Silva Gomes, de 19 anos, é um desses jovens. Não tem emprego e não vai à escola, mas vai votar pela primeira vez no dia 23.
"A juventude de hoje em dia está a precisar muito de estudar e temos poucas escolas aqui no nosso país. Não temos empregos. Estamos a ver os estrangeiros que estão a vir aqui para Angola e estão a seguir o caminho. Deveríamos estudar", considera.
Segunda Ngunza, de 22 anos, é outra cidadã que vai às urnas pela primeira vez nas próximas eleições. Embora revele uma certa falta de conhecimento sobre as eleições, ela não tem dúvidas: "Votar é uma alegria", diz.
"Estamos a sentir alegria. Vamos votar! Em todo o partido que aparecer, vamos votar", afirma a jovem angolana.
Intenção de voto "não conta", diz ativista
Estas são as terceiras eleições em Angola desde que o país alcançou a paz em 2002 e as primeiras em tempo de crise económica e financeira. Ainda assim, segundo o ativista cívico angolano Mbanza Hamza, as intenções de voto dos eleitores não deverão "contar muito" nestas eleições - "essa intenção nunca foi respeitada nos pleitos que já aconteceram", considera.
"Eu acho que toda a nossa atenção, nessa fase, devia estar a ser focada nas violações [da lei] que vão sendo cometidas, na construção daquilo que mais tarde virá a ser chamado de fraude", avalia o ativista cívico.
A campanha eleitoral está na reta final. A 23 de agosto, os angolanos vão escolher nas urnas o novo Presidente da República e os seus representantes na Assembleia Nacional. Por isso, sublinha Hamza, deve-se prestar maior atenção à eventual "violação da lei".
Para o ativista, "a fraude não é o método nem a contagem, é um conjunto de coisas que vão acontecendo, e que vão sendo deixadas acontecer, que contribuem para a descredibilização do processo."
Sondagens contraditórias
O site "Maka Angola" do jornalista e ativista angolano Rafael Marques de Morais, noticiou, na última semana, que uma sondagem encomendada pela Presidência da República prevê uma vitória do MPLA com apenas 38% dos votos.
A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) obteria 32% das intenções de voto, enquanto a Convergência Ampla de Salvação de Angola-Coligação Eleitoral (CASA-CE) surgiria após a atual maior força da oposição, com 26%. Cerca de 90% dos cidadãos teriam sido inquiridos no estudo realizado pela empresa brasileira Sensus Pesquisa e Consultoria, nas 18 províncias do país, segundo o "Maka Angola".
No entanto, esta segunda-feira (14.08), o Jornal de Angola divulgou que o Consórcio Marketpoll Consulting, empresa angolana, e a Sensus Pesquisa e Consultoria desmentiram a sondagem eleitoral divulgada pelo "Maka Angola", afirmando que o estudo nunca foi realizado.
O jornal refere-se a um comunicado conjunto das duas empresas e escreve que "os dados das pesquisas, realizadas pela Marketpoll/Sensus diferem, radical e frontalmente, dos dados apresentados pelo site 'Maka Angola' e que a Marketpoll/Sensus nunca realizou qualquer sondagem de opinião, com uma base amostral de 9.155 entrevistas no país".
Uma sondagem sobre as eleições de 23 de agosto, realizada em julho pelo Instituto Superior Politécnico Jean Piaget de Benguela em parceria com o Instituto Superior Politécnico Sol Nascente do Huambo e o apoio da Universidade Católica Portuguesa, apontava para um cenário de maioria absoluta do MPLA, com mais de 60% das intenções de voto.
Segundo este estudo, a CASA-CE contava com cerca de 19% das intenções de voto e a UNITA com 15%. Carlos Pacatolo, coordenador do inquérito, considerou que "a margem de erro ronda os 1,3%."