Angola: UNITA reforça necessidade de auditar dívida pública
17 de junho de 2020Em declarações à DW África, Maurílio Luiele, vice-presidente do Grupo Parlamentar da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), diz que o seu partido continua à espera da solicitação.
O pedido para a auditoria à dívida pública foi feito no princípio de 2018, mas não avançou.
"A UNITA continua sim interessada em que se faça uma auditoria à dívida pública como solicitou, de resto, há dois anos," afirmou.
Este deputado aponta os motivos que levaram o maior partido da oposição em Angola a solicitar a auditoria.
"O dinheiro desta dívida foi desencaminhado para fins particulares, não beneficiou os interesses dos angolanos. A dívida serviu para falir empresas, serviu para enriquecer uma elite como agora se tornou evidente," argumenta.
Valores questionados
Assim sendo, a UNITA não tem dúvidas de que a atual dívida não seja real. Sobre a alegada falsidade da dívida pública, Maurílio Luiele lembra os pronunciamentos de Vera Daves, atual ministra angolana das Finanças.
"A dívida é falsa, a dívida não é real. A própria ministra das Finanças, então secretária de Estado das Finanças, fez uma afirmação, na altura, [a dizer] que 25% da dívida seria falsa. Portanto, é uma governante que levantou essa suspeita," pondera.
Manuel Nunes Junior, ministro de Estado do Desenvolvimento Económico e Social disse, em 2018, que o Executivo estava aberto para que fossem acionados todos os instrumentos legais que assegurassem a concretização com rigor e transparência da gestão dos fundos públicos, incluindo as auditorias.
Em 2019, o Fundo Monétário Internacional (FMI) reviu a dívida pública angolana em 111% do seu Produto Interno Bruto (PIB), segundo o jornal Expansão.
Consequências da dívida
As consequências desta dívida são visiveis. Por exemplo, no orçamento de 2020, em revisão por causa da queda do preço do petroleo no mercado internacional, previa-se quase 60 % dos gastos para pagamento de juros e amortizações da dívida.
Estes dados foram confirmados, este fim-de-semana, pelos analistas da Agência Fitch, que preveem um gasto de cerca de cinco mil milhões de dólares este ano.
Com esta realidade económica e financeira do país, o ativista angolano Nelson Euclides, residente do Moxico, leste de Angola, diz que a situação das famílias nos próximos tempos "vai piorar ainda mais".
"Vai e vai mesmo. Há dias, nós denunciamos a situação duma criança que quase morreu de fome. [Passou] 45 dias sem se alimentar. E, o que é que se espera?", questiona.