Angolanos chocados com a tortura de uma jovem manifestante
25 de novembro de 2014
As agressões contra Laurinda Gouveia são atribuídas aos agentes da polícia e dos serviços secretos por ela ter participado na manifestação convocada no último sábado (22.11) pelo Movimento Revolucionário, que visava exigir justiça contra os autores da morte de um militante da CASA-CE, Manuel Hilberto Ganga (23.11.2013), assim como pedir a demissão do Presidente José Eduardo dos Santos no poder há 35 anos.
A sociedade civil e ativistas de organizações não governamentais angolanas de defesa dos Direitos Humanos e das Mulheres revelam-se profundamente chocadas com as torturas inflingidas à jovem Laurinda Gouveia, a única menina do Movimento Revolucionário que participou da manifestação de sábado.
Corpo de Laurinda Gouveia cheio de hematomas
Imagens postas a circular nas redes sociais e na blogoesfera, como por exemplo no Makaangola, mostram hematomas por quase todo corpo de Laurinda que teria sido brutalmente espancada por um comandante da Polícia Nacional do Distrito Urbano da Ingombota (Esquadra da Ilha de Luanda), que usou barras de ferro contra a jovem deixando-a numa cadeira de rodas.
Com 26 anos de idade, Laurinda Gouveia conta que foi detida por agente dos serviços secretos quando se preparava para filmar os seus colegas do Movimento Revolucionário que, na ocasião, tinham decidido tomar de assalto o largo da Independência que se encontrava sob forte controlo das forças policiais angolanas.
"Da próxima vez poderá ser morta"
Encontrando-se neste momento hospitalizada, Laurinda destacou ainda que os agentes da polícia chegaram mesmo a dizer que da próxima vez que for vista numa manifestação anti-governamental poderá ser morta.
"Disseram-me que da próxima vez vão-me matar porque se a surra que me deram não for suficiente da próxima será para valer. O comandante da polícia da Ilha estava lá porque consegui reconhecê-lo", disse Laurinda.
Entretanto, indignada com o caso a jornalista e advogada, Amor de Fátima, pede que sejam responsabilizados os autores da barbaridade cometida contra a ativista Laurinda Gouveia, sob pena de se pôr em causa a construção de uma sociedade que se quer democrática e respeitadora dos direitos humanos.
"Estas imagnes são um resultado chocante dentro daquilo que deve ser a construção do que queremos. Um Estado de direito democrático. Seja quem for que tenha cometido esta barbaridade, temos uma lei e ela é para todos. Com certeza que quem cometeu este ato deve ser responsabilizado porque se trata de um ato bárbaro", conclui.
Comunidade internacional vai reagir?
Quem também se mostrou extremamente chocada com o espancamento de que foi vítima a jovem do Movimento Revolucionário é a jornalista e diretora do jornal Terra Angolana, Ana Margoso, que espera uma reação firme da comunidade internacional e da sociedade angolana contra os atos de tortura que diz terem o patrocínio do regime do Presidente José Eduardo dos Santos.
"A situação dos direitos humanos em Angola não está a melhorar e não vai muito bem de saúde como os nossos dirigentes têm a mania de dizer. Dos governantes não espero nada porque são eles que dão as ordens para a polícia ter este tipo de comportamento, aliás como tem sido a prática todos esses anos. Portanto repito que dessa gente não espero nada. Mas espero que a comunidade internacional e a sociedade civil angolana reajam perante tanta atrocidade contra jovens indefesos", diz.
A DW África contatou, sem sucesso, o Comandante geral da Polícia Nacional de Angola Ambrósio de Lemos, que não atendeu aos nossos telefonemas.