Araújo: Reeleição de Momade gera "alguma frustração"
28 de maio de 2024O sétimo congresso da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) está longe de ter sido aglutinador de alas. Um pouco por todo país, tem havido manifestações de contestação à indicação de Ossufo Momade como candidato presidencial do maior partido da oposição às eleições de 9 de outubro.
No último fim de semana, membros e simpatizantes da RENAMO marcharam pelas ruas de Quelimane, reiterando que não concordam com a eleição de Momade para a liderança do partido e como candidato presidencial.
"Ninguém tem medo de arriscar e dizer que é da RENAMO e não aceita a liderança de Ossufo Momade", afirmou um dos manifestantes.
A onda de contestação é para Manuel de Araújo, membro sénior do partido, compreensível: "Infelizmente, parece que se está a perder uma grande oportunidade da RENAMO ser alternativa à FRELIMO no dia 9 de outubro", diz Manuel de Araújo em declarações à DW África.
"Havia uma expetativa de que o presidente Ossufo Momade cedesse a liderança do partido a uma geração mais jovem e que houvesse uma transição", continua o político da RENAMO. A reeleição de Momade gerou "alguma frustração, especialmente, para os mais jovens, que querem ver os seus sonhos realizados a curto prazo e não a médio e longo prazos".
Venâncio Mondlane, ex-cabeça de lista da RENAMO em Maputo para as autárquicas de outubro e indicado nos protestos contra Momade como candidato preferido, anunciou que iria avançar como independente na corrida à Presidência da República e começar a recolher assinaturas de apoio.
Clima de desunião
O delegado provincial da RENAMO na província da Zambézia, Inácio Reis, acusou o edil de Quelimane, Manuel de Araújo, de apoiar os manifestantes nas marchas realizadas na cidade.
À DW, o autarca não comenta as declarações de Inácio Reis. Indica apenas que é preciso mais união na RENAMO.
"Parece que estamos a caminhar para uma maior desunião, o que é bastante triste", comenta Manuel de Araújo. "Mas eu acho que o presidente Ossufo Momade ainda tem a hipótese de reconciliar a família e retificar os erros que já cometeu desde a realização do congresso, que foi a nomeação da Comissão Política, do Conselho Jurisdicional e do Conselho Nacional."
Araújo aponta para a manutenção do "status quo" na Comissão Política e critica a composição do Conselho Nacional. De acordo com o jornal online Carta de Moçambique, a família de Ossufo Momade "assaltou" este órgão decisório do partido: Glória Ubisse (esposa), Osvaldo Ossufo Momade (filho) e Zena Momade (irmã de Ossufo Momade) fazem parte do recém-criado Conselho Nacional, constituído por 120 membros.
Estas são situações que, no entender do autarca Manuel de Araújo, estão a criar uma certa deceção entre alguns membros da RENAMO.