Arranca mais uma Cimeira da União Africana na Etiópia
9 de fevereiro de 2020Arrancou, na manhã deste domingo (09.02), na Etiópia, a 33ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da União Africana. O início dos trabalhos ficou marcado pela "passagem do testemunho" da presidência da organização do Egito á África do Sul. Foi ainda anunciado que quem vai suceder a Cyril Ramaphosa, chefe de Estado da África do Sul, em 2021, será Félix Tshisekedi, Presidente da República Democrática do Congo (RDC).
Até segunda-feira (10.02), os chefes de Estado e de Governo africanos estarão reunidos em Adis Abeba, sob o tema "Silenciar as armas: Criar condições favoráveis ao desenvolvimento em África". No entanto, os responsáveis da UA estão bem conscientes do seu fracasso em alcançar o objetivo adotado em 2013 de pôr fim a "todas as guerras em África até 2020".
Num encontro com os ministros dos negócios estrangeiros africanos antes da cimeira, o Presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, pintou um quadro sombrio da situação de segurança do continente, fazendo referência às ameaças extremistas que se estendem desde o Sahel até à Somália. O "prazo falhado" para silenciar as armas, disse ele, "revela a complexidade da situação de segurança em África".
Por seu lado, na sessão de abertura da cimeira, este domingo, António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, afirmou-se convicto de que "os desafios de África só poderão ser resolvidos com lideranças africanas" e acrescentou: "Silenciar as armas não é apenas sobre paz e segurança, mas também sobre desenvolvimento inclusivo e sustentável e direitos humanos", disse.
António Guterres chamou ainda a atenção para a urgência de combater a pobreza no continente e sublinhou que "África tem sido vítima de uma globalização desigual" e a região que mais sofre com as alterações climáticas. Pediu ainda à comunidade internacional mais determinação na luta contra a corrupção.
"Tenho testemunhado os esforços de muitos países em África para eliminarem a corrupção, reformar os sistemas de impostos e melhorar a governação das instituições, mas a comunidade internacional deve complementar estes esforços com uma determinação mais forte em combater a evasão fiscal, o branqueamento de capitais e fluxos financeiros ilegais", disse.
Situação no Sudão
Ainda na mesma ocasião, António Guterres e o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamta, apelaram à retirada do Sudão da lista dos países que apoiam o terrorismo e pediram mobilização de apoios internacionais para o desenvolvimento do país. "Está na altura de retirar o Sudão da lista dos Estados que apoiam o terrorismo e de mobilizar apoio internacional massivo que possa permitir ao país ultrapassar as suas dificuldades", defendeu o secretário-geral das Nações Unidas.
Para Moussa Faki Mahamta, o processo de pacificação do Sudão, após a destituição do presidente Omar al-Bashir, foi um "sucesso estrondoso". "Esta experiência demonstra que se África se dedicar a resolver os seus problemas, juntamente com os parceiros internacionais, pode fazer a diferença", disse.
Outros temas
Durante a cimeira, serão também avaliados os progressos na implementação da agenda de desenvolvimento (Agenda 2063), na operacionalização da Zona de Livre Comércio em África, bem como as contribuições dos Estados-membros para o orçamento da organização e a estratégia de transformação digital do continente, entre outros assuntos.
Em discussão estará também o relatório do Conselho de Paz e Segurança, que esteve reunido no sábado (08.02) para analisar a situações na Líbia e no Sahel.
À margem do encontro, a Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) vai debater a crise pós-eleitoral na Guiné-Bissau, referiu a organização em comunicado. Este sábado (08.02), António Guterres disse esta a aguardar os "resultados do processo pendente" sobre as eleições no país.
Participação lusófona
Angola e Cabo Verde estão representados pelos respetivos presidentes da República, João Lourenço e Jorge Carlos Fonseca, e a delegação de Moçambique é chefiada pelo primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário.
A delegação de São Tomé e Príncipe é liderada pela ministra dos Negócios Estrangeiros, Elsa Pinto, enquanto a Guiné-Bissau será representada por Suzy Barbosa, que se demitiu de ministra dos Negócios Estrangeiros, mas está em Adis Abeba com "plenos poderes" de representação atribuídos pelo Presidente José Mário Vaz.
Marcam também presença na cimeira o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom, os primeiros-ministros do Canadá, Justin Trudeau, e da Noruega, Erna Solberg, e o Presidente da Palestina, Mahmud Abbas.