Assistência médica já é paga no Hospital Central da Huíla
11 de janeiro de 2016Os pacientes que acorrem ao Hospital Central da província da Huíla dizem não perceber por que passaram a ter de pagar as consultas, no final do ano passado, por ordem do Ministério da Saúde.
Segundo o paciente Nonato Raimundo, o hospital chega a cobrar o equivalente a 20 euros por consulta: "Não entendo o porquê desta medida. Os valores das consultas variam de 1785 kwanzas a 3000 kwanzas. Nem todos têm estas possibilidades. Está difícil."
Carlos José concorda que nem todos conseguem pagar, e conta: "Antigamente as pessoas não tinham de pagar, mas hoje estão a pagar. Até no banco de urgências que era gratuito agora paga-se 80 kwanzas."
E o paciente questiona-se: "O povo lá do mato que não tem nada, que depende da colheita do milho, onde vai arranjar esse dinheiro para pagar uma consulta? É difícil... Sinceramente!" Desde novembro, trabalhadores eventuais também foram despedidos, alegadamente por falta de verbas. Anacleta Augusta foi uma das visadas – ela trabalhou durante um ano e meio no Hospital Central do Lubango: "Fomos despedidos, cerca de vinte e cinco funcionários. Nós perguntamos o porquê e eles disseram-nos que é por causa da crise."
Mortes por falta de medicamentos
Anacleta Augusta revela ainda: "Também por causa da crise há muita gente a morrer por falta de medicação. O médico passa a receita, mas como o hospital não tem remédios para poder suprir as necessidades, só as consultas e as análises são pagas."
As autoridades de saúde disseram não ter tempo para falar com a nossa equipa de reportagem, confirmando apenas que as medidas se justificam pela crise que o país vive. A sociedade civil mostra-se preocupada. Segundo Luís Aires, da Igreja Evangélica Congregacional em Angola, IECA: "Isto é que nos motivou a visitarmos o Hospital Central do Lubango onde tivemos a possibilidade de conversar com a direção do hospital, também visitamos demoradamente as várias seções e constatamos esta necessidade de humanizar os serviços de saúde na nossa Angola."
A Igreja Evangélica Sinodal de Angola, IESA, é um dos parceiros do Estado angolano no setor, e defende que a rede sanitária no país deve ser alargada. Para o reverendo Diniz Marcolino Eurico, presidente da IESA, os "novos postos de saúde devem ser abertos sobretudo nas zonas onde o Governo não tem nada."