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Justiça popular em Cabo Delgado: "Não confirmamos", diz PRM

14 de dezembro de 2018

Polícia não consegue confirmar se população de Cabo Delgado está a fazer justiça com as próprias mãos contra homens armados que intensificam as suas ações na província. E refuta o alastramento dos ataques para o Niassa.

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Aldeia de Mucojo, distrito de Macomia, depois de um ataque armado em junho de 2018Foto: Privat

Os homens armados que atuam na província nortenha de Cabo Delgado voltaram aos ataques e forma mais intensificada. Aparentemente cansada de uma falta de resposta contra as ações dos insurgentes, agora a população decidiu reagir fazendo justiça pelas próprias mãos.

"No grupo de Nangade onde quase todos foram mortos, eram quese oito, dois terão sido capturados, porque a população confirmou-nos que matou muitos lá. Depois de terem atacado uma aldeia velha a população insurgiu-se, fez um cerco e acabou por atingir um certo número deles", relata à DW África David Machimbuko, administrador do distrito de Palma, os testemunhos que ouviu em Nangade, distrito vizinho, no dia 3 de dezembro:

David Machimbuko
David Machimbuko, administrador de PalmaFoto: DW/N. Issufo

PRM não confirma e nem desmente

No passado dia 6 de dezembro o jornal online "Carta de Moçambique" noticiou a decapitação de insurgentes e publicou ainda imagens de supostos populares com membros humanos nas mãos. A DW África contactou o porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Cabo Delgado.

Mas Augusto Guta remeteu-nos a outros: "Nós não confirmamos. Mais uma vez submetemos esse caso ao comando geral da PRM, porque esses assuntos relacionados com a desordem que está a acontecer na zona norte da província de Cabo Delgado quer a gestão do pessoal e dos meios materiais são feitas a nível das Forças de Defesa e Segurança e é falado ao nível do comando geral"

Mas nem o porta-voz do comando geral da PRM estava em condições de confirmar o caso. As palavras de Inácio Dina foram as seguintes: "Não tenho consciência do tal facto, é preciso aferir. Como disse, é uma notícia que preciso apurar, não posso confirmar nem desmentir. Não estou em condições, precisava de contactar várias fontes, os colegas e comandantes distritais."

Justiça popular em Cabo Delgado: "Não confirmamos", diz PRM

Um ping-pong da Polícia que no final não resultou em nenhuma informação objetiva à DW África. Entretanto, Dina prometeu dar esclarecimentos sobre o caso.

PRM contra-ataca HRW

E no mesmo período, no começo de dezembro, a Human Rights Watch (HRW) denunciava novas suspeitas de execuções sumárias e abusos das autoridades contra supostos autores de ataques. A conclusão resulta de entrevistas feitas pela ONG de defesa dos direitos humanos a 12 vítimas e testemunhas de abusos, bem como oficiais das forças de segurança e jornalistas.

"São acusações que caberão a quem as faz provar a autenticidade delas. E para as Forças de Defesa e Segurança chega, de facto, a ser uma ofensa, porque o nosso engajamento é prevenir que a população continue a sofrer atrocidades daqueles grupos", contra-ataca Inácio Dina.

E o porta-voz da PRM sublinha que "as Forças de Defesa e Segurança tiveram de agir para evitar que houvesse continuação dos atos. Foram apresentados em juízo e neste momento aguardamos pela leitura das sentenças."

Não há alastramento dos ataques para Niassa

Mosambik, Macomia: Mucojo village had houses destroyed by armed groups
Aldeia de Mucojo, distrito de Macomia, incendiada pelos atacantesFoto: Privat

E a par do recrudescimento de ataques em Cabo Delgado, as ações dos insurgentes estariam a alastrar-se para a província do Niassa, ainda segundo a "Carta de Moçambique". Em finais de novembro um ataque terá sido efetuado por eles no distrito de Balama da província, tendo resultado na morte de uma pessoa.

Mas Inácio Dina garante que não há pulverização dos ataques, que está tudo sob controlo: "O ponto de situação neste momento é Cabo Delgado, mais nos distritos ao norte, mas não há alastramento para outras províncias. Essa informação não confirmamos."

Os ataques de homens armados não devidamente identificados começaram há mais de um ano e dois meses e cerca de 200 pessoas foram mortas. Os ataques tornam-se agora quase diários, o mais recente aconteceu nesta quinta-feira (13.12.) em Msangue Ponta, distrito de Palma, mas sem relato de mortes.

O administrador do distrito, David Machimbuko, revela que os grupos que outrora eram compostos por 50 pessoas agora têm cada um cerca de oito.

Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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