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Religião

Ataques em Moçambique "não têm nada a ver" com religião

24 de abril de 2019

O xeque Aminuddin Mohamad, presidente do Conselho Islâmico de Moçambique, confirma que há muçulmanos perseguidos injustamente em Cabo Delgado por causa dos ataques naquela província.

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Foto: DW/J. Carlos

O xeque Aminuddin Mohamad disse esta quarta-feira (24.04), em entrevista à DW África, em Lisboa, que o Conselho Islâmico de Moçambique (CISLAMO) está a trabalhar com o Governo moçambicano e com a Embaixada dos Estados Unidos em Maputo para melhorar a opinião pública sobre a comunidade muçulmana que, segundo o líder religioso, em nada está relacionada com os ataques no Norte do país.

"Havia a tentativa, talvez por ignorância ou por maldade por parte de alguns média, de querer ligar uma coisa à outra. Inicialmente, tudo o que era islâmico ou muçulmano - como uma batina ou um kofior na cabeça - era visto como suspeito", relata Aminuddin Mohamad.

Mosambik Anschlag in Naunde
Violência tem deixado um rasto de destruição e morte em Cabo Delgado, norte de MoçambiqueFoto: DW/A. Chissale

Conselho Islâmico tranquiliza Governo

"Houve violações de Direitos Humanos graves. Muitos inocentes foram presos, mas agora com o andar do tempo, as autoridades já estão a reconhecer que, de facto, os ataques não têm nada a ver com a religião", frisa o responsável. "O Conselho Islâmico ofereceu-se também para tranquilizar o Estado e o Governo" nesse aspeto, acrescenta o líder religioso.

Para o xeque Aminuddin Mohamad, a comunidade islâmica acaba por ser duplamente vítima dos ataques de grupos terroristas no norte de Moçambique. "Perseguiam os imãs e perseguiam os muçulmanos. E, por outro lado, o Governo também suspeitava dos mesmos muçulmanos", comenta.

O presidente do CISLAMO reconhece que havia recrutadores a mobilizar indivíduos para cometer atrocidades na sequência dos ataques em Cabo Delgado. "Apareceu um grupo de recrutadores que explorava a pobreza e a ignorância em relação à religião islâmica. Pagavam-lhes para cometerem atrocidades incríveis. Quer dizer, mutilavam os corpos, decapitavam as cabeças. Portanto, coisas que nenhuma religião no mundo é capaz de aprovar", lamenta o xeque. "Havia suspeitas em algumas mesquitas, em relação a alguns frequentadores que, talvez por ingenuidade ou por ignorância, entraram nessas linhas de violência, mas muitos já foram identificados", assevera.

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Populações de Cabo Delgado, norte de Moçambique, vivem com constante receio de novos ataques

Falta dinheiro para programas de intervenção

O Conselho Islâmico, em parceria com a Embaixada dos Estados Unidos em Moçambique, está a levar a cabo um projeto de formação dos imãs e da população de Cabo Delgado no campo dos Direitos Humanos. Esse trabalho tem sido feito em conjunto com o Governo moçambicano, embora haja algumas dificuldades na sua implementação. Para além do país ser "muito vasto", o Governo "tem problemas de recursos", comenta Aminuddin Mohamad.

Ataques em Moçambique "não têm nada a ver" com religião

A propósito do diálogo inter-religioso, o líder considera que essa é a única via, neste momento, para se estabelecer a paz no mundo. "Podemos trabalhar juntos para trazer bem-estar à sociedade, fazendo com que os valores morais possam regressar novamente", admite, referindo que em Moçambique "as religiões convivem pacificamente umas com as outras e que este é um bom modelo e exemplo para muitos países de África".

O presidente do CISLAMO está numa visita de duas semanas a Portugal, onde participou num colóquio promovido pela Casa de Moçambique e a União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) sobre a "Liberdade de Expressão e o Contributo das Religiões na Economia".

O xeque Aminuddin Mohamad esteve ainda em Lisboa para apresentar uma obra da sua autoria que traduz o Corão para língua portuguesa.

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