Ativista exige responsabilização da IURD pelas mortes
9 de janeiro de 2013Em causa está a cerimónia do "Dia do Fim", promovida pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), organização religiosa fundada no Brasil. Na véspera do Ano Novo, estima-se que 250 mil pessoas se reuniram no estádio, que no entanto tem capacidade para apenas 70 mil.
O culto da IURD terminou com aproximadamente 16 mortes e 120 feridos, segundo várias fontes. As vítimas fatais, entre as quais haveria três crianças, teriam morrido pisoteadas e asfixiadas pela multidão na entrada do estádio, que estava apenas com dois dos quatro portões abertos, de acordo com informações de agências de notícias.
A DW África conversou com o advogado David Mendes, que também é ativista cívico, sobre o caso:
DW África: Concorda com as críticas da oposição angolana, que dizem que algumas das autoridades da Comissão de Inquérito são as mesmas que seriam responsáveis pela segurança do estádio?
David Mendes (DM): Não estou muito preocupado com a Comissão criada pelo Presidente da República, o que me preocupa é a responsabilização da igreja, ela tem de ser responsabilizada sob o ponto de vista civil pelas mortes. Está claro que houve negligência, a igreja devia ter previsto que isso ía acontecer, ela fez uma publicidade muito agressiva e deveria ter em mente que haveria de aparecer um número acima do que previam. E também houve meios que puseram à disposição, como autocarros, por exemplo, em todas as artérias da cidade de Luanda, incluindo algumas províncias. Por isso a igreja deveria ter criado condições, não só de acesso, mas também de segurança, como o corpo de bombeiros e a Cruz Vermelha, para que em caso de alguma fatalidade socorrerem as pessoas.
DW África: Acha que a IURD sairá fortalecida ou enfraquecida deste episódio?
DM: Na nossa análise a igreja foi irresponsável, na ânsia de ter dinheiro cria expetativas irrealizáveis. E para ter uma noção, muita gente que lá esteve, incluindo as pessoas que morreram não eram da IURD, eram de outras confissões. Mas pela propaganda enganosa as pessoas foram com o intuito de encontrarem uma solução para os seus problemas. Comercializam Deus, Deus passou a ser uma mercadoria.
DW África: Acha que a IURD está a ganhar mais influência em Angola?
DM: Todas as igrejas que prometem milagres aos pobres, as igrejas mercantilistas, cujo fim é ter dinheiro, onde as sociedades são pobres e o Estado não vela por elas, todos os que prometem o céu e a terra, as pessoas aderem. É o caso da Igreja Universal e da Mundial, que tem cobertura da imprensa, tem uma imprensa, rádio, conseguem ter muita influência social.
DW África: Como o senhor vê a relação da IURD com o Governo angolano?
DM: É uma promiscuidade que existe entre o Governo e as Igrejas.
DW África: Pode explicar um pouco melhor?
DM: Todos sabemos quem são as pessoas que frequentam a IURD, e quais as pessoas ao nível de topo que estão lá, e todos sabemos que o Governo põe à disposição das igrejas e confissões religiosas meios e dinheiro.
DW África: E porque será que o Governo disponibiliza meios e dinheiro as igrejas?
DM: Para manipular a opinião pública eles precisam do voto das pessoas, e essas igrejas fazem o papel de ativistas políticos.
DW África: Foi o caso das eleições de 2012?
DM: Aquilo foi a pior vergonha que já passamos.
DW África: Porque?
DM: Houve promiscuidade entre o Estado e a igreja, as igrejas se converteram em templos para rezar pelos que estão no poder, para rezar para que a ditadura continue em Angola.