Ativista pede à UE para investigar alegados abusos nas Lundas
24 de abril de 2013Incluído numa audiência sobre o impacto das indústrias extractivas sobre os povos indígenas, o jornalista e ativista angolano, Rafael Marques denunciou os abusos que estão a ser vividos no país e apelou por uma monitorização da União Europeia.
Recorde-se que Marques já chegou a ser condenado a 6 meses de prisão por ter escrito um artigo de denúncia e recentemente, viu o seu livro "Diamantes de Sangue", que conta assassínios e torturas na região diamantífera angolana, à beira de censura. Agora, o jornalista angolano Rafael Marques, que tem sido distinguido internacionalmente pelas denúncias de corrupção e violações dos direitos humanos em Angola, apresentou esta quarta feira (24.04) uma comunicação no Parlamento Europeu, em Bruxelas, sobre o impacto das indústrias extractivas nas comunidades das Lundas, em Angola.
Contraste gritante entre classes e os abusos que se vive nas Lundas
Promovido pela subcomissão parlamentar dos direitos humanos do Parlamento Europeu, na sua apresentação Marques falou do contraste gritante entre classes e dos abusos que se vive nas Lundas, região diamantífera, em particular. Começou a sua intervenção mostrando imagens de uma vítima de violência em Cuango, e acrescentou que este "acto criminoso faz parte da rotina sistemática de violações dos direitos humanos nos campos de diamantes em Angola."
Ana Gomes, eurodeputada portuguesa, disse em entrevista à DW África que “o facto de estar perfeitamente identificado o grande número de mortes, pessoas torturadas e direitos espezinhados, pelas companhias estrangeiras mas associadas a generais angolanos, figuras do Estado angolano na exploração das Lundas o processo de Kimberley, devia justamente tomar uma posição. Era suposto ser feito algo contra os abusos que são identificados”.
"O meu povo está a ser assassinado por pura ganância"
Rafael Marques durante a sua intervenção afirmou que "hoje o meu povo está a ser assassinado por pura ganância". Apelou aos eurodeputados que não atribuam tanta credibilidade à governação angolana, porque nas palavras do ativista, estes compactuam com as violações dos direitos humanos no país, e Ana Gomes concorda com a descredibilização do executivo de Luanda e destacou que “Angola está ainda muito abaixo na lista, e não é por Angola ser um país pobre. Tem fabulosos recursos e hoje já vive em paz. Um grande desenvolvimento verificou-se em Angola graças à paz, mas também à conta de um aumento das desigualdades. Os ricos fabulosamente ricos a estragar e a desperdiçar recursos e os pobres continuando pobres. Basta ver que 85% da população angolana não tem água corrente e portanto a desculpa da guerra já não serve! O que Angola tem é um problema de má governação”, concluiu a eurodeputada Ana Gomes.
Processo de Kimberley parece ter perdido a sua credibilidade
O ativista e jornalista angolano, acrescentou que o processo de Kimberley, o regulador mundial encarregue de lutar contra a comercialização dos diamantes de sangue, parece ter perdido a sua credibilidade e o seu objectivo. Afirmou que "Estes diamantes de sangue devem ser impedidos de entrar nos mercados internacionais, algo que o processo de Kimberley está a ignorar". Para a eurodeputada, estas questões são de essencial relevância para a União Europeia.
Segundo a eurodeputada Ana Gomes, tudo isso está ligado “ao respeito pelos direitos humanos, se prende com pôr cobro à corrupção que faz desviar somas faraónicas do investimento no desenvolvimento e também nas cumplicidades que se verificou a nível global para a diversificação desses fundos do investimento. E Ana Gomes vai mais longe quando afirma que o esquema de contas off-shore, depósitos em paraísos fiscais e branqueamento de capitais "esses esquemas de corrupção que envolvem frequentemente países membros da União Europeia, aparecem nesses circuitos quer como os seus bancos sendo objectos de depósito quer funcionando como paraísos fiscais e máquinas para branqueamento de capitais".
O ativista Rafael Marques, apelou à União Europeia à monitorização da região e pediu o envio de uma equipa de investigação à zona diamantífera, a fim de garantir os direitos humanos.